terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Um pouco da história do Caminho de Santiago



Segundo a lenda católica, após a dispersão dos Apóstolos pelo mundo, Santiago foi pregar em regiões longínquas, passando algum tempo em Espanha, na Galiza. Quando voltou à Palestina, no ano 44, foi preso e decapitado, a mando de Herodes Agrippa I, filho de Aristobulus e neto de Herodes o Grande. Dois de seus discípulos, Teodoro e Atanásio, roubaram o corpo do mestre e embarcaram-no (num barco com tripulação angélica) e em sete dias chegaram à Galiza e a Iria Flávia onde o sepultaram, secretamente, num bosque de nome Libredón.

Não há certezas quanto à data da descoberta do sepulcro apostólico, mas a maioria das fontes católicas apontam datas entre 813 e 820. A lenda conta que um ermitão do bosque de Libredón, de nome Pelágio (ou Pelaio), observou durante algumas noites seguidas uma “chuva de estrelas” sobre um monte do bosque. Avisado das luzes, o bispo de Iria Flávia, Teodomiro, ordenou escavações e encontrou uma arca de mármore com os ossos do santo e dos seus discípulos.

No “Campus Stellae” – de onde se crê provir a palavra Compostela – foi erigida uma capela para proteger a tumba do apóstolo que se tornou um símbolo da resistência cristã aos ataques dos mouros. A partir do ano 1000 as peregrinações a Santiago popularizam-se, tornando-se a cidade num dos principais centros de peregrinação cristã (a par de Roma e Jerusalém); é também nesta altura que surgem os primeiros relatos de peregrinos que viajaram a Compostela.

No século XII é publicado o primeiro guia do peregrino (do Caminho Francês) – o Códice Calixtino (ou Liber Sancti Jacobi) atribuído ao Papa Calixto II, que proclama ainda que quando o dia do Santo (25 de Julho) é num Domingo, esse é um Ano Santo Jacobeu (com especiais bênçãos e privilégios espirituais para os peregrinos). Grupos de peregrinos começam a chegar de toda a Europa, desenvolvendo as cidades por onde passam, sendo o Caminho Francês o mais utilizado.

O Caminho de Santiago, tal como relatado no Códice Calixtino, é em terra o desenho da Via Láctea, porque esta rota se situa directamente sob a Via Láctea que indica a direcção de Santiago, servindo assim, na Idade Média, de orientação durante a noite aos peregrinos. Esta associação deu ao Caminho o nome de Caminho das Estrelas e fez com que a chuva de estrelas seja um dos símbolos do culto Jacobeu, juntamente com a Vieira, a Cabaça e o Bordão.

No século XII o padre francês Américo Picaud escreveu cinco livros contando a história da vida do apóstolo, e os caminhos que o levaram a Santiago. Naquela época o lugar foi considerado santo pela Igreja Católica.

Já em 1962, a Espanha declarou o caminho de Santiago património histórico e artístico do país, pois nele existem igrejas e monumentos do século X.

Desde a década de oitenta muitos místicos, magos e terapeutas fazem deste caminho um circuito de autoconhecimento, em busca de paz interior. Os peregrinos são facilmente identificados: usam um cajado para lhes servir de apoio nos trechos mais difíceis ou para se defenderem dos lobos e trapaceiros que estão no caminho, uma capa curta para protegê-los do sol e da chuva, chapéu de abas largas, uma bolsa de couro e uma caixa de primeiros socorros.

A tradição pede que os andarilhos enfeitem as mochilas com conchas, pois são o símbolo do peregrino, uma espécie de símbolo do "santiaguista". Carregam também uma pequena cruz em forma de espada, a protecção de São Tiago Mata-Mouros. Lembrando outra lenda, em Maio de 844 um príncipe venceu os mouros com a ajuda milagrosa de Santiago.

Existe ainda outra tradição: o Papa Alexandre III estabeleceu que seriam considerados anos santos compostelanos aqueles em que o dia 25 de Julho, dia de São Tiago, calhasse num domingo. A popularidade do caminho de Compostela é tão grande em todo o mundo, que em vários países existem grupos de peregrinos que se reúnem para tirar suas dúvidas, e contam com o apoio da Federação de Associações de Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, sediada na Espanha. A melhor época para se fazer a peregrinação é em Abril e Outubro.

O Caminho de Santiago atingiu o máximo esplendor nos séculos XI e XII. Nas últimas décadas voltou a ganhar protagonismo, sendo convertido num itinerário espiritual e cultural de primeira ordem. Foi declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu (1987) e Património da Humanidade na Espanha (1993) e França (1998).

No mês de Julho muitos peregrinos, místicos e terapeutas de índole cristã percorrem o caminho de Santiago de Compostela em busca do auto-conhecimento, da purificação e da paz interior, repetindo uma tradição de quase dez séculos de existência. Por esse caminho passaram reis, nobres, guerreiros, sábios e ignorantes.

Muitos são levados a percorrer o caminho em busca do cumprimento de uma penitência e outros por prestígio, pois no final da peregrinação recebe-se um certificado, antigo costume que ainda hoje se mantém.

Existem vários Caminhos que percorrem toda a Europa e que afluem a Santiago de Compostela, sendo que o mais famoso é sem dúvida o chamado Caminho Francês que atravessa a Fronteira Franco-Espanhola nos Pirenéus e atravessa todo o norte de Espanha.

O nosso Concelho faz parte de uma das rotas deste caminho milenar, havendo registos e relatos da passagem de peregrinos por estas bandas desde a idade média.

A esta Rota, que atravessa o nosso Concelho e aparece mencionada na obra de Humberto Baquero Moreno, “VIAS PORTUGUESAS DE PEREGRINAÇÂO A SANTIAGO DE COMPOSTELA” em que relata um assalto a um casal de peregrinos alemães, cujo julgamento decorreu em Nisa, designa-se por Caminho Português do Interior.

imagem: Hieronymus Bosch, 1500-1502, O peregrino, Museum Boymans-van Beuningen, Rotterdam
fontes:
http://ceg.fcsh.unl.pt/site/principal.asp
http://www.portugalmistico.com/


1 comentário:

  1. informação muito útil para a realização de um trabalho escolar, obrigada :)

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