sábado, 5 de maio de 2012

Caminho Primitivo: Dia 2 (15 de Abril: San Juan de Villapañada - Bodenaya)


Retomámos o Caminho às 08h00 da manhã. Tivemos que voltar um pouco atrás para apanhar de novo as setas. Às 09h50 parámos numas Bombas de Gasolina à entrada de Cornellana para um 2º "desayuno" mais reforçado, depois do 1º que tínhamos tomado no albergue. Às 13h20 realizámos nova paragem, um pouco mais prolongada num bar em Salas! Tempo para tomarmos umas cervejas e comermos bocadillos. Neste local, próximo de um outro bar com acesso gratuito à net, o Manuel Correia aproveitou para enviar fotos ao Zé Carlos para o nosso blogue. Em seguida foram mais 7 km em subida gradual até Bodenaya, onde ficámos no Refugio do Alejandro, era 16h50! Um hospitaleiro muito simpático e muito prestável! Que nos recebeu com honras, com a ajuda da sua companheira, uma basca de Bilbao! Após o merecido banho de água quente, lavámos e secámos roupa! Começámos a conhecer alguns amigos do Caminho Primitivo, para além da Pilar e do Glicério, 3 alemães, um checo o Jacob, uma peregrina finlandesa a Viveca e claro está o reencontro com o nosso "velho" amigo Javi Mayor! Bebemos sidra durante a tarde enquanto confraternizámos entre todos! Jantámos umas fantásticas lentilhas, salada e tortilha! Muito bom albergue, com hospitaleiros fantásticos, muito recomendável, ainda por cima sem taxa fixa, com donativo! Deu para recuperar bastante animo para as jornadas seguintes, sem duvida! Uma nota para mais 29,4 km percorridos ao longo desta etapa! 

Fotos (autoria): António Delfino, António Pimpão e Manuel Correia 

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Caminho Primitivo: Dia 1 (14 de Abril: Oviedo - San Juan de Villapañada)


O euro bus que nos conduziu ao longo dos 522 km que separam Cáceres de Oviedo, tinha, de facto, muito boas condições! Pese embora as vicissitudes da viagem que não permitiram uma longa noite de sono, ainda assim deu para descansar o suficiente para abraçármos a 1ª etapa do Caminho Primitivo! Realizou algumas paragens, uma das quais de 30 minutos. O mau tempo agravou-se à medida que progredíamos em direção ao nosso destino. De tal forma que, já na zona das Astúrias, a temperatura desceu abruptamente até aos 2 graus positivos, provocando a queda de alguma neve misturada com chuva, que embatia com alguma violência contra o vidro do autocarro.

 
Se é certo que já estávamos a contar com tempo mau, contudo não deixámos de ficar algo apreensivos com as condições adversas que nos aguardavam em Oviedo. À hora prevista (07h50) e com o dia já claro, tanto quanto o mau tempo o permitia, chegámos à estação de autocarros de Oviedo. Primeiro vestimos a roupa da chuva, depois tomámos um pequeno-almoço ainda com sobras que tinham vindo de casa. Em jeito de aquecimento demos os primeiros passos, com a chuva por companhia, ao longo dos 1.200 metros que separam a estação da Catedral de S. Salvador, ponto de partida do Caminho Primitivo. Ao contrário do que estávamos à espera, a Catedral já se encontrava aberta ao público, o que para nós constituiu uma boa notícia, pois assim conseguiríamos dar início ao Caminho antes das 10h00 da manhã.

 
Tínhamos visto na net que a Catedral só abria ao público às 10h00, informação que, felizmente, não se veio a confirmar! Trata-se de um templo religioso com uma imponência respeitável, como de resto são todas as outras construções desta natureza. Por dentro é ainda mais admirável, todos tivemos o nosso momento de meditação e de reflexão em jeito de prece para o desafio que se avizinhava! Antes da saída carimbámos a credencial, o primeiro carimbo de todos, o sinal oficial para ao arranque da travessia! Junto ao pórtico principal da Catedral tirámos a foto de grupo e após os desejos mútuos de Bom Caminho, às 09h28 da manhã, dávamos início ao Caminho Primitivo, dando os primeiros passos ao encontro das vieiras de bronze que se encontravam no chão. Nestes primeiros passos não pude deixar de imaginar como teriam sido também os primeiros passos do rei Astur Alfonso II, O Casto que, no alvorecer do século IX, dava ele também inicio, desde esta Basílica, à primeira de todas as peregrinações a Compostela (dai a designação de Caminho Primitivo…), para venerar a tumba de Santiago Maior e fundar ali em Sua honra a primeira Basílica, como testemunhava o epitáfio em bronze colocado no chão, no começo desta rota junto à Catedral de S. Salvador!

 
Percorremos os primeiros 11 km até Escamplero sem dar pelo tempo passar, aqui, pelas 12h30, realizámos uma pausa para descansar e, abrigados da chuva no alpendre de uma igreja, comemos os derradeiros víveres vindos de casa, regados com o bom do vinho Terras de Nisa, com os cumprimentos do nosso amigo Joaquim Figueiredo Reizinho! Mas o momento alto do dia estava reservado para Peñaflor, onde chegámos pelas 15h00! Parámos junto à “terraza” (esplanada) de um restaurante, que se encontrava coberta com enormes guarda-sóis de pano, que neste caso guardavam a chuva! O Castro e o Pimpão entraram no restaurante e deram de caras, imagine-se, com o nosso “velho” amigo do Caminho Francês o Javi Mayor! Foram momentos de grande emoção e de imensa felicidade com este reencontro (para nós) inesperado! O Javi tinha também saído de Oviedo nessa manhã, estava acompanhado de uma peregrina espanhola da zona de Valência, a Pilar e de um peregrino peruano, o Glicério! O Javi já tinha perguntado por nós por onde foi passando e ficou radiante por nos reencontrar! Ele soube, através do blogue, que nos viríamos neste dia e quis fazer uma surpresa e que surpresa! Por acaso eu tinha estranhado ele não ter respondido ao meu email…agora percebia porquê! Em Grado comprámos comida para o jantar no albergue e para o “desayuno” da manhã seguinte, uma vez que em San Juan, não havia lugar onde comer ou onde comprar comida.

 
Chegámos ao albergue de San Juan de Villpañada às 18h20! Nada mau para quem tinha viajado toda a noite de autocarro, para quem tinha começado a etapa algo tardiamente e debaixo de chuva! 2 notas negativas em relação ao enquadramento desta etapa: qual a razão dos guias definirem como final de etapa Grado, se o albergue fica em San Juan? E pior ainda: o albergue ficar fora do Caminho e a uma distância considerável das setas! Vá-se lá percever porquê! Tomei banho de água fria! Contingências, segundo me disseram, do aquecimento da água ser com cilindro elétrico! Resisti! Nada que um bom vinho e uma refeição quente não resolvessem! O hospitaleiro, Domingo Ugarte, apareceu mais tarde, para registar o pessoal, dar algum apoio e prestar informações para a etapa seguinte! As últimas 24 horas tinham sido muito agitadas, pelo que recolhi à “litera” (beliche), pouco depois das 10 horas da noite e dormi muito bem! Ah! Já me esquecia, segundo o gps do Manel, fizemos 30,7 km!

Fotos (autoria): António Pimpão

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Caminho Primitivo: Dia 0 (13 de Abril, O Prólogo)


O dia 0 do Caminho começou cedo e ainda em Nisa, pelas 10h15 da manhã quando o António Delfino e o António Ramos se deslocaram de carro até à Estação de Comboios de Vila Velha de Ródão para ir buscar o 7º elemento do grupo, o Manuel Correia, que ali chegou pelas 10h50, após madrugadora viagem desde a Campanhã no Porto. Ainda durante a semana tinha decidido vir por Nisa e juntar-se a nós, penso que foi a melhor decisão tendo em contas as restantes opções!

Almoçámos tranquilamente nas 3 Marias, eu, o Delfino e o Manuel! A partir das 14h30 e tal como previamente combinado, o Zé Carlos Monteiro e o João José Temudo começaram a fazer a recolha ao domicilio, como de resto já foi aqui publicado. Não faltaram comes e bebes para o início do Caminho: uma bola de chouriço oferta do António Pimpão, um arroz à valenciana confecionado pelo João José e, claro está, o bom do tinto graças ao Rosalino Castro e ao Joaquim Figueiredo Reizinho! O cartaz gastronómico incluía ainda queijo de Nisa, presunto, chouriço e pão! Havia que fortalecer os estômagos e as mentes, pois “con pan y vino se hace el Camino”, pois então!

Foi desta forma que, após foto de grupo junto à igreja do Calvário, cerca das 15h00, partimos de Nisa para Cáceres na carrinha da INIJOVEM, a quem aproveito para agradecer, nomeadamente, à sua direção pelo apoio! Agradecimento que é extensível, obviamente, aos companheiros Zé Carlos e João José que uma vez mais nos acompanharam no prólogo de uma nova travessia pela rota jacobeia! Às 17h00 (18h00 horas em Espanha) chegámos à bonita cidade de Cáceres, que está também ela incluída numa rota para Santiago, a Via da Prata! Acertámos os relógios para a nova hora e, nas imediações da Estação de Autocarros de Cáceres, desfrutámos de um belo lanche! Começaram a cair os primeiros pingos de chuva com algum vento à mistura, ainda assim deu para comermos sem sobressaltos.

Após o repasto dirigimo-nos à Estação para confirmar o horário e a linha de partida do autocarro até Oviedo! Deixámos as mochilas nos cacifos da Estação! Tirámos uma foto final de grupo e despedimo-nos dos nossos companheiros José Carlos e João José que ainda tinham uma viagem de 150 km de regresso a Nisa. Como tínhamos muito tempo livre, pois o autocarro só partiria às 23h45, encetámos um passeio higiénico pelo magnífico centro histórico de Cáceres, património mundial! Na procura do itinerário certo para a parte antiga da cidade passámos por uma vieira que sinalizava a passagem da Via da Prata, passámos também por um albergue privado, eram os primeiros sinais que estávamos de regresso ao Caminho! Regressados ao terminal rodoviário de Cáceres, tomámos umas bebidas no bar e por volta das 22h00 jantámos calmamente junto à linha de embarque. À hora marcada (23h45) embarcámos finalmente em euro bus rumo a Oviedo! A viagem incluía oferta de auriculares, garrafa de água mineral e refeição gratuita no restaurante Maribel, situado pouco depois de Cáceres junto à estrada. 

Fotos (autoria): António Pimpão e Manuel Correia    

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Caminho Primitivo: O regresso!


Olá a todos! Depois de 17 dias fora de portas, 14 dos quais repartidos entre o Caminho Primitivo (11) e o Caminho de Fisterra (3), estou de volta a casa! Todos os Caminhos de Santiago que já realizei encerram a sua própria e única história e este ficará, certamente, na história como o mais duro, mas também como um dos mais fantásticos em termos de paisagem! Se esta rota já não era fácil com bom tempo, imaginem o que foi trilhá-la com chuva (diluviana a maior parte do tempo), com vento forte, muito frio, com neve e com nevoeiro! Os níveis de adrenalina andaram quase sempre altos, com o "red line" a ser atingido durante a travessia da carismática e para nós inesquecível "Rota dos Hospitais"! Foram 6 dias a calcorrear a zona montanhosa das Astúrias, num sobe e desce constante, ou como dizem os peregrinos espanhóis um "rompe piernas"! Ao inicio da manhã do 6º dia consecutivo de marcha, passámos a fronteira entre as Astúrias e a Galiza, no local denominado "Puerto Del Acebo", a mais de 1000 metros de altitude! A partir daqui os desníveis diminuiram gradualmente, mas a chuva continuava a não querer dar tréguas, ainda que a espaços fizesse algumas curtas pausas. Acho que no total arriscaria a contabilizar, com alguma segurança, apenas 2 jornadas e meia sem chuva e com o sol a perder a timidez! No acordo de cavalheiros firmado entre S. Pedro e Santiago, incluem-se o 3º dia de marcha, entre La Espina e Borres, a tarde do 9º dia de marcha, no troço entre Lugo e San Roman de Retorta, por sinal durante a etapa mais extensa e no 14º dia de caminhada, entre Olveiroa e Fisterra! No dia da chegada à Praça de Obradoiro até que não esteve muito mal, mas algo sucedeu entre S. Pedro e Santiago, pois a chuva, ainda que de forma mais suave, voltou a tombar sobre nós! Até ao Km 0 do Caminho em Finisterrae, onde a terra acaba e o mar começa, apenas ficámos 2, eu  e o António Pimpão! E valeu a pena termos ficado, pelo que ainda vivemos durante esta última parte da travessia, mas acima de tudo pelo dia fantástico na chegada a Finisterrae e pelos rituais que partilhámos no Farol, voltados para um mar imenso e para um sol inesquecível! Agradeço à minha familia, agradeço a todos os amigos, em especial a todos aqueles que acompanharam esta nossa arrojada aventura e que através de mensagens telefónicas ou através do blogue nos deram sempre força para continuar! A actualização do blogue, não sendo tarefa fácil, ainda assim só foi possível graças ao empenho do Manuel Correia e do José Carlos Monteiro! Uma palavra também de agradecimento ao amigo João José Temudo! A partir de amanhã publicarei regularmente o meu diário de viagem (que ainda não está fechado...) aqui no blogue, acompanhado de algumas fotos, esperando que desfrutem vocês também deste nosso Caminho e que o relato desta peregrinação vos sirva de incentivo e de motivação para vos lançar neste mágico mundo que é o Caminho de Santiago!

Ultreya et Suseya!

Foto (autoria): Manuel Correia