sexta-feira, 4 de maio de 2012

Caminho Primitivo: Dia 1 (14 de Abril: Oviedo - San Juan de Villapañada)


O euro bus que nos conduziu ao longo dos 522 km que separam Cáceres de Oviedo, tinha, de facto, muito boas condições! Pese embora as vicissitudes da viagem que não permitiram uma longa noite de sono, ainda assim deu para descansar o suficiente para abraçármos a 1ª etapa do Caminho Primitivo! Realizou algumas paragens, uma das quais de 30 minutos. O mau tempo agravou-se à medida que progredíamos em direção ao nosso destino. De tal forma que, já na zona das Astúrias, a temperatura desceu abruptamente até aos 2 graus positivos, provocando a queda de alguma neve misturada com chuva, que embatia com alguma violência contra o vidro do autocarro.

 
Se é certo que já estávamos a contar com tempo mau, contudo não deixámos de ficar algo apreensivos com as condições adversas que nos aguardavam em Oviedo. À hora prevista (07h50) e com o dia já claro, tanto quanto o mau tempo o permitia, chegámos à estação de autocarros de Oviedo. Primeiro vestimos a roupa da chuva, depois tomámos um pequeno-almoço ainda com sobras que tinham vindo de casa. Em jeito de aquecimento demos os primeiros passos, com a chuva por companhia, ao longo dos 1.200 metros que separam a estação da Catedral de S. Salvador, ponto de partida do Caminho Primitivo. Ao contrário do que estávamos à espera, a Catedral já se encontrava aberta ao público, o que para nós constituiu uma boa notícia, pois assim conseguiríamos dar início ao Caminho antes das 10h00 da manhã.

 
Tínhamos visto na net que a Catedral só abria ao público às 10h00, informação que, felizmente, não se veio a confirmar! Trata-se de um templo religioso com uma imponência respeitável, como de resto são todas as outras construções desta natureza. Por dentro é ainda mais admirável, todos tivemos o nosso momento de meditação e de reflexão em jeito de prece para o desafio que se avizinhava! Antes da saída carimbámos a credencial, o primeiro carimbo de todos, o sinal oficial para ao arranque da travessia! Junto ao pórtico principal da Catedral tirámos a foto de grupo e após os desejos mútuos de Bom Caminho, às 09h28 da manhã, dávamos início ao Caminho Primitivo, dando os primeiros passos ao encontro das vieiras de bronze que se encontravam no chão. Nestes primeiros passos não pude deixar de imaginar como teriam sido também os primeiros passos do rei Astur Alfonso II, O Casto que, no alvorecer do século IX, dava ele também inicio, desde esta Basílica, à primeira de todas as peregrinações a Compostela (dai a designação de Caminho Primitivo…), para venerar a tumba de Santiago Maior e fundar ali em Sua honra a primeira Basílica, como testemunhava o epitáfio em bronze colocado no chão, no começo desta rota junto à Catedral de S. Salvador!

 
Percorremos os primeiros 11 km até Escamplero sem dar pelo tempo passar, aqui, pelas 12h30, realizámos uma pausa para descansar e, abrigados da chuva no alpendre de uma igreja, comemos os derradeiros víveres vindos de casa, regados com o bom do vinho Terras de Nisa, com os cumprimentos do nosso amigo Joaquim Figueiredo Reizinho! Mas o momento alto do dia estava reservado para Peñaflor, onde chegámos pelas 15h00! Parámos junto à “terraza” (esplanada) de um restaurante, que se encontrava coberta com enormes guarda-sóis de pano, que neste caso guardavam a chuva! O Castro e o Pimpão entraram no restaurante e deram de caras, imagine-se, com o nosso “velho” amigo do Caminho Francês o Javi Mayor! Foram momentos de grande emoção e de imensa felicidade com este reencontro (para nós) inesperado! O Javi tinha também saído de Oviedo nessa manhã, estava acompanhado de uma peregrina espanhola da zona de Valência, a Pilar e de um peregrino peruano, o Glicério! O Javi já tinha perguntado por nós por onde foi passando e ficou radiante por nos reencontrar! Ele soube, através do blogue, que nos viríamos neste dia e quis fazer uma surpresa e que surpresa! Por acaso eu tinha estranhado ele não ter respondido ao meu email…agora percebia porquê! Em Grado comprámos comida para o jantar no albergue e para o “desayuno” da manhã seguinte, uma vez que em San Juan, não havia lugar onde comer ou onde comprar comida.

 
Chegámos ao albergue de San Juan de Villpañada às 18h20! Nada mau para quem tinha viajado toda a noite de autocarro, para quem tinha começado a etapa algo tardiamente e debaixo de chuva! 2 notas negativas em relação ao enquadramento desta etapa: qual a razão dos guias definirem como final de etapa Grado, se o albergue fica em San Juan? E pior ainda: o albergue ficar fora do Caminho e a uma distância considerável das setas! Vá-se lá percever porquê! Tomei banho de água fria! Contingências, segundo me disseram, do aquecimento da água ser com cilindro elétrico! Resisti! Nada que um bom vinho e uma refeição quente não resolvessem! O hospitaleiro, Domingo Ugarte, apareceu mais tarde, para registar o pessoal, dar algum apoio e prestar informações para a etapa seguinte! As últimas 24 horas tinham sido muito agitadas, pelo que recolhi à “litera” (beliche), pouco depois das 10 horas da noite e dormi muito bem! Ah! Já me esquecia, segundo o gps do Manel, fizemos 30,7 km!

Fotos (autoria): António Pimpão

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