sábado, 26 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca): Epílogo

Dia 13 de Abril de 2013 (sábado)

Salamanca - Cáceres – Nisa
Salamanca - Autocarro Alsa até Cáceres  (15,08€)
Cáceres – carro particular até Nisa

Depois de algum tempo de espera, às 13H30, sentei-me confortavelmente no meu lugar, e pus-me a ouvir musica, no regresso a sul passei por alguns sítios por onde tinha alguns dias antes caminhado, cheguei a Cáceres às 16h30, onde me aguardavam os amigos e familiares que foram buscar!
A viagem de regresso e o descanso merecido, era o que mais ansiava após o reencontro com as pessoas que amo mais no mundo…

Em 2014 retomarei de novo este caminho desta vez até Santiago….

Notas finais:

Este meu relato foi escrito durante quase um ano, pouco a pouco! Senti a necessidade de deixar só para mim os meus pensamentos mais íntimos…

No momento em que publico estas palavras sei já a data da continuação deste caminho, 12 de Abril de 2014, nesta data irei encontrar-me com o meu grande amigo e companheiro Rosalino Castro em Salamanca, daí seguiremos juntos até Santiago.


Refiro só que o Rosalino começou em Sevilha, no dia 27 de Março de 2014, a Via de la Plata.


Texto: António Pimpão

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 14
Dia 13 de Abril de 2014 (sábado)

Morille- Salamanca (19,3 km)

Total kms (Sevilha - Salamanca): 477 km

Saí com o Cristian eram 06H50, daqui a Salamanca era um pulinho pelo que antecipadamente comemoro interiormente o facto de saber que vou concluir com êxito e dentro do timing que pré-estabeleci, a Via da Prata entre Sevilha e Salamanca! Esta última etapa até Salamanca, numa distância 19,5 km, serviu para me ir despedindo do companheiro destas duas ultimas etapas, ainda me desafiou a seguir com ele, mas não, o meu planeamento era mesmo só até aqui, Salamanca quase se vê do início da etapa o que a torna monótona, nenhuma povoação até lá, só uma enorme pista de terra batida, sem sombras, o que no Verão deve ser terrível, passámos ao largo de Miranda de Azan, até alcançarmos uma cruz metálica, de onde se avistava já nitidamente a cidade destino final do dia, eram 10H30 quando chegámos por fim à catedral de Salamanca, antes tínhamos passado a ponte romana sobre o rio Tormes, decidimos estacionar numa esplanada, o Cristian fez questão de pagar uma derradeira bebida, selámos as despedidas com um abraço, sabia que dificilmente nos iríamos encontrar de novo, o tal sentimento misto começava a apoderar-se de novo de mim, feliz por ter chegado e triste por ter terminado, assim é o Caminho…!

Lá o segui com a vista até desaparecer, visitei a catedral, carimbei a credencial e fui até ao albergue, onde pedi ao hospitaleiro que me deixasse tomar um duche, peguei na mochila, deixei o donativo e fui à minha vida, pedi informação o autocarro e respetivo terminal rodoviário à policia municipal que simpaticamente me direcionou no sentido correto, parei ainda para comprar lembranças para o pessoal e fiquei a saber que a rã é o símbolo estudantil por aqui.

Cheguei ao terminal rodoviário, apressei-me a comprar o bilhete e em boa hora o fiz, afinal os horários que tinha não estavam corretos e se não calho a chegar com tempo ao terminal tinha ficado a levar uma seca de duas horas.

Aproveitei para comer algo, o autocarro iria partir em breve e a viagem até Cáceres ainda ía demorar um pouco, disse adeus a Salamanca até 2014… 











Texto e fotos: António Pimpão

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 13
Dia 12 de Abril de 2013 (6ª feira)

F. de Salvatierra – San Pedro de Rozados (28,6 Km) - Morille (4km), total (32,6 km)

Antes de sair tive a oportunidade de durante o pequeno-almoço, conversar com o pároco do albergue, deixei-lhe um galhardete de Nisa, agradeceu-me a lembrança e desejou-me um bom resto de caminho.
A registar, tal como já referi dois factos, um que se prende com o José de Barcelona que seguiu muito cedo dado que tinha a intenção de ir ficar a Salamanca, onde terminaria a sua peregrinação e o outro facto tinha a ver, como já referi, com o Tomás, que decidiu ficar mais um dia para desinfestar os seus pertences.

Assim sendo, saí juntamente com o Cristian às oito da manhã em ponto, vimos nascer o sol no caminho, lindo, entre caminhos e campos alagados e miliários, montes, carradas de miliários, coincidentes com a calçada romana e que nos foram fazendo companhia, atingimos a metade da Via de la Plata neste troço e iniciámos a subida ao ponto mais alto que subi neste caminho, o pico de la Duena, ao chegar à zona das torres de energia eólica parece tínhamos chegado ao cimo, mas afinal ainda nos faltava um bocadinho até atingirmos os quase 1200 metros de altitude, o mais alto desde Sevilha e de onde se tem uma vista espetacular, depois a descida, por um trilho de pedra solta e árvores, até atingirmos a estrada por onde seguimos sem novidades de maior até muito perto da povoação de San Pedro de Rozados.

Atravessámos a povoação, eu e o Cristian estávamos a pensar parar, não vimos nenhum bar e seguimos, Morille estava ali já pertinho e decidimos ir até lá, chegámos cedo, eram 13H30, daqui até Salamanca só faltava mesmo a distância de um tiro de canhão, fomos os primeiros a chegar, o albergue só tinha seis lugares, escolhemos as melhores camas, tomei banho, lavei a roupa, pus a secar, fui ao bar da Isa, paredes meias com o albergue, comi algo, pedi informações sobre o comércio local e aproveitei para reservar o jantar, andei por ali a visitar as imediações, tirei umas fotos e encontrei a mercearia, estava fechada, bati a uma data de portas, dei com o dono que prontamente me atendeu, comprei o que necessitava e pedi se podia esperar até que fosse chamar os companheiros de albergue para fazer compras, o que fiz de imediato.
Depois de todas estas tarefas, estiquei-me na cama e pus a escrita em dia que estava bastante atrasada, estive de conversa com o Cristian que começava a dizer-me que se o mau tempo se mantivesse, iria regressar a casa mais depressa que o previsto, fiquei a conhecê-lo um pouco melhor, bom tipo, deu para afinar mais um pouco o meu “franciú”!

Fomos jantar, os seis do albergue, três franceses, dois espanhóis e eu, que bela esta última noite passada neste caminho, foi muita conversa, da minha parte estava quase feito, a etapa seguinte seria o meu último dia no caminho nesta primeira fase da Via da Prata, estaria de regresso a casa, fomos dormir, ouvi música até adormecer…  







Texto e fotos: António Pimpão

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha-Salamanca)

Etapa 12
Dia 11 de Abril de 2013 (5ª feira)

a) Aldeanueva del Camino - La Calzada de Béjar (22,2 km)
b) La Calzada de Béjar – Fuenterroble de Salvatierra (20,2 km)

Saída do albergue às sete horas, por coincidência cruzámos com o Tomás vindo do outro albergue e seguimos juntos deixando para trás uma linda ponte ainda dentro da vila, daqui até Banos de Montemayor, seguimos aborrecidamente por estrada, aí subimos uma ladeira extensa, estávamos em plena calçada romana até ao alto do Puerto de Béjar, de onde se tem uma excelente visão de toda aquela paisagem encantadora.

O Tomás e o José pararam na Fonte do Peregrino, mesmo a acabar a calçada romana, eu e o Cristian seguimos, deixando para trás a província da Extremadura e entrando na de Salamanca, na Comunidad de Castilla y Léon, baixamos até passar a ponte da Madalena sobre o rio “Cuerpo del ombre”, seguimos alguns km junto ao rio, até atingir de novo uma estrada secundária que nos serviu de guia até entrarmos em Calzada de Béjar, passámos mesmo juntinho ao albergue Alba y Soraya, decidimos parar num bar simpático para tomar o bocadillo da ordem sempre bem acompanhado por uma bebida reconfortante, saímos após este restabelecer de energias e demos de cara com os nossos companheiros de jornada, por entre caminhos cheios de água, fomos avançando, sempre debaixo de uma chuva que teimosamente não nos largava, tivemos que tirar as botitas e atravessar mais um rio de caudal considerável, por cima de umas passadeiras que estavam submersas, tive alguma dificuldade, ainda abanei na segunda mas lá me consegui equilibrar e atravessar sem mais problemas, o José ainda sacou algumas fotos, acho que estava mesmo a pensar que ía cair e quereria, digo, eu registar o momento, bom fiquei mais um pouco a secar os pés, a calçar as meias e as botas e arranquei já sozinho e o que constatei é que cinco minutos no caminho podem fazer a diferença entre caminhares sozinho ou acompanhado e desta vez bem acelerei mas os meus companheiros de viagem até ao final, foram mesmo só a chuva que se tornava cada vez mais intensa e foi assim que passei por Valverde de Valdelacasa e Valdelacasa e palmilhei a ultima meia dúzia de km, passagem pelo bosque peregrino, mais algum tempo por estrada, até chegar pelas 16H15 ao albergue parroquial de Fuenteroble de Salvatierra.

O albergue estava superlotado, no interior já não havia lugar, tive que ficar num anexo exterior, infelizmente a chuva não tornou o resto de tarde agradável, lavei a roupa á chuva e estendi num telheiro superlotado, no interior muita confusão, o pessoal que chegou primeiro tinha apanhado como é óbvio os melhores lugares junto á lareira pelo que depois de ter arrumado o que podia e ter orientado as coisas de forma a não me esquecer de nada, desafiei os companheiros que me tinham precedido para beber um copo, aproveitei para comprar algo para o dia seguinte, bebemos umas cervejas e voltámos ao albergue para deixar a mercadoria, aproveitei para dar mais uma volta á roupa, estava tudo molhado, decidi trazer trazê-la para o interior e fui enxugando conforme pude, junto à lareira.

Saímos por volta da hora de jantar eu e os três companheiros jantámos juntos, o Tomás começou a queixar-se de comichões e mostrou algumas alergias esquisitas.Lembrei-me do albergue onde ficara no dia anterior e do que tinha ouvido falar em relação á bicharada que por lá existia, nem jantou o pobre do Tomás com as comichões, regressou ao albergue e no dia seguinte já não seguiu connosco, ficou a lavar a roupa toda, a mochila inclusive, decidiu prevenir e ficaria por ali mais um dia.

Bom, nós regressámos ao albergue após uma jantarada a tagarelar, eu pessoalmente dormi bem, arrumei a mochila, pus-me a ouvir música até adormecer e só acordei no dia seguinte. A próxima jornada seria até Morille numa distância de 32,1 km, um pouco mais curta que as anteriores, com destaque param a passagem pela localidade de San Pedro de Rozados! Prevejo chegar a Salamanca no sábado por volta do meio-dia! Assim seja!








Texto e fotos: António Pimpão

domingo, 20 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 11
Dia 10 de Abril de 2013 (4ª feira)

Carcaboso – Cáparra - Aldeanueva del Camino (38,6 km)  

 Tal como já tinha referido, esta etapa não tem povoações intermédias nem pontos de apoio, pelo que a dividi em duas fases: até ao Arco de Cáparra e depois do Arco de Cáparra. Abandonei o albergue depois de um pequeno almoço reforçado e saí de Carcaboso  às sete horas da manhã em ponto, de véspera a Dona Helena tinha-me recomendado que a partir de um certo ponto não seguisse as setas, não segui o seu conselho e fui dar a um cruzamento onde a inexistência de sinalização me fez andar à nora, retomado o rumo certo e depois de algum tempo a abrir e  a fechar cancelas de cercas com vacas, fui dar a uma estrada que atravessei e entrei em trilhos de pé posto, reencontrando os meus três amigos da véspera, na companhia de uma vara de porcos que os seguiam vereda adiante, por entre o caminho enlameado e repleto de água das chuvas abundantes que tinham caído.

Seguimos a partir daí juntos até entrarmos triunfalmente no Arco de Cáparra, nas ruínas romanas da cidade com o mesmo nome, parámos mesmo junto ao arco, onde os meus companheiros decidiram comer a merenda que levavam, eu decidi ir ao Centro de Interpretação localizado a umas três ou quatro centenas de metros do caminho, fui simpaticamente bem recebido e agora me lembro que nem pedi para me carimbarem a credencial, grande lapso, bom havia lá umas máquinas de bebida e café, felizmente levava moedas, tomei uma bebida refrescante que juntamente com a minha comida soube a pouco e ainda deu para partilhar com a pessoa que se encontrava ali de serviço e que decidiu retribuir-me pagando-me um café e com quem brinquei que depois disso iria ter muitas visitas de portugueses quando soubessem que ali

davam café, enfim uns momentos bem passados, decidi regressar ao caminho e ver se ainda apanhava os companheiros, fui fazendo um vídeo das ruinas e quando cheguei á lomba de onde se avistava o arco, vislumbrei ainda os três peregrinos, mochilas às costas, caminhando na minha dianteira.

Foi uma etapa muito molhada, não em termos de chuva, mas devido ao facto de decorrer em campos de pastagens de vacas, passagem a vau de vários ribeiros e no final muito alcatrão até ao destino final, pelo meio ainda cruzámos com a carrinha de um Hotel das imediações que se predispõe a ir buscar ao caminho quem por programação de etapa decide pernoitar por ali, inclui o serviço a reposição do pessoal no local no dia seguinte, assim seguimos sempre a bater o pé na estrada e atravessando a N-630 por uma passagem subterrânea, chegámos às 16h15 e após mais 40 km palmilhados, a Aldeanueva del Camino, aí tivemos um pequeno percalço, a porta do andar superior do albergue estava fechada e tive que procurar pela aldeia o hospitaleiro, que, depois de detetado me garantiu que estava aberta, voltei de novo ao albergue e quando cheguei os meus companheiros já estavam a instalar-se mas diziam eles que água quente não havia, as instalações também deixavam um bocado a desejar, na verdade eu que até nem sou de grandes esquisitices, fiquei um bocado apreensivo, até porque tinha referencias de alguns “ bichos” por ali, na minha procura pelo hospitaleiro tinha dado com um novo albergue, aberto recentemente e nem pensei duas vezes peguei na trouxa e mosquei-me ligeiro, seguido de pronto pelo francês Cristian e pelo espanhol de Barcelona José, o alemão Tomas decidiu-se a ficar e iria descobrir no final do dia seguinte que não tinha tomado a melhor opção, ficámos os três no mesmo quarto, com casa de banho e chuveiro incluído, pagámos 15 euros, o albergue chama-se “La casa de mi abuela” e passam recibo, eheheh.

Neste albergue encontrei pouco depois, o primeiro português do caminho de quem já tinha ouvido falar mas com quem ainda não me tinha cruzado, não retive o seu nome, apenas fiquei a saber que é de Castelo Branco, embora não viva lá, pela manhã saí mais cedo que ele e nunca mais o vi, tive o cuidado de lhe deixar o meu contato e pedi à hospitaleira que lho entregasse, mas nunca mais lhe apanhei o rasto.
Bom, depois de instalados fui juntamente com o Cristian fazer compras para o caminho do dia seguinte e para o jantar, dado que decidimos ficar a jantar no albergue que tinha ótimas condições para, o que fizemos e que belo repasto eu tive com o Cristian, vimos um pouco de televisão, bebemos um chazinho e fomos algum tempo depois ver do vale dos lençóis, dormi bem que eu sei lá, das melhores noites desde que saíra de Sevilha.

Avizinhava-se um novo dia e o Cristian decidira que a partir daqui seguiria comigo até Fuenterroble de Salvatierra. Até Fuenterroble de Salvatierra, teríamos para palmilhar 42 km, com passagem pelas localidades de Hervás, Baños de Montemayor, Puerto de Béjar, La Calzada de Béjar e Valverde de Valedelacasa! Que Santiago e todos os druidas do Caminho continuem connosco! 









Texto e fotos: António Pimpão