sábado, 12 de fevereiro de 2011

Em Defesa do Caminho de Santiago! (1ª parte)

Em Defesa do Caminho de Santiago! (2ª parte)

Caminho de Santiago na Lista do Património Mundial em Perigo (UNESCO)

Pela Defesa do Caminho de Santiago me pronuncio!


Como em tudo na vida "não há bela sem senão" e infelizmente nem o Caminho de Santiago escapa à incúria de alguns homens detentores do poder de decisão que cegos pela sede do dinheiro fácil - qual vil metal -, e usando como pretexto, uma falsa perspectiva de desenvolvimento, pretendem destruir e adulterar alguns troços do Caminho. Trata-se de um crime de lesa património - e que património! -, falo tão somente de mais de 11 séculos de história! Falo tão somente do Primeiro Itinerário Cultural Europeu, classificado com tal desde 1987! Falo tão somente de um Itinerário classificado como Património da Humanidade em Espanha em 1993 e em França em 1998! Pois os mesmos que reconheceram tais atributos ao Caminho de Santiago, que não sejam coniventes com estes actos e que não autorizem o que se perspectiva como inevitável nalguns troços do Caminho. Como alguém muito bem afirma num dos vídeos postados em cima "Se isto acontece no Caminho Francês, o que será que se estará a passar nos outros Caminhos..." ou também como diz uma senhora "Malditos sejam os que roubam a sua própria História!". Congratulo-me e solidarizo-me com todos aqueles que, publicamente e activamente, se têm manifestado e repudiado estes actos de atentado ao Caminho, e apraz-me em particular, registar com grande apreço as bandeiras portuguesas que tomaram parte em tais manifestações reivindicativas em defesa do Caminho! Daqui lanço o convite, desafiando e exaltando a que ninguém fique indiferente, que se associem e manifestem pela defesa de mais de 11 séculos de História e de Cultura! Convido de igual modo todos os seguidores do blogue a deixarem o seu comentário, dizendo de sua justiça sobre este assunto!

Em Defesa do Caminho Ultreya et Suseya!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Exposição «Loci Iacobi» em Grândola: O Caminho de Santiago e a Europa

A Secretaria Xeral para o Turismo da Xunta de Galicia, o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e a Communauté d’Agglomération du Puy-en -Velay inauguraram no Museu de Arte Sacra de Grândola, no dia 5 de Fevereiro, às 17:00, a Exposição «Loci Iacobi – Lugares de Santiago, Lieux de Saint Jacques». Esta iniciativa, que coincidiu com a inauguração do Museu de Arte Sacra, instalado na igreja de S. Sebastião, reúne obras de arte, antiga e contemporânea, de museus e igrejas de Espanha, Portugal e França, incluindo pela primeira vez, numa iniciativa de arte sacra, um cartoon de Luís Afonso, intitulado «Caminhos de Santiago».

O Museu de Arte Sacra de Grândola abriu as portas, a 5 de Fevereiro, com uma exposição dedicada à mais antiga via de peregrinação europeia. A iniciativa resulta de um projecto pioneiro de colaboração entre Espanha, Portugal e França.Quando a decadência do Império Romano, a partir do século V, facilitou a expansão do regime feudal, proliferaram na Europa os poderes descentralizados, a agricultura de subsistência e a economia baseada em trocas directas, quase sem comércio. Durante boa parte da Idade Média, viajar de região em região tornara-se cada vez mais difícil – a não ser quando se obtinha o salvo-conduto da Igreja, a única «internacional» que ficou de pé. Com a anexação da Península Ibérica e de vasta extensão da bacia do Mediterrâneo aos domínios islâmicos, em 711, esta situação ganhou ainda maior complexidade. Uma das raras excepções que permitiam ultrapassar fronteiras, inclusivamente em áreas sob tutela muçulmana, era a peregrinação aos lugares santos.

O Caminho de Santiago, iniciado no século IX, representa a prova viva disto, acabando por contribuir decisivamente para a descoberta de uma unidade europeia face à multiplicação de pequenas soberanias. Ao túmulo do apóstolo Santiago Maior – que a tradição situa em Compostela, exactamente onde depois se lhe edificou a catedral – afluíam peregrinos de toda a Europa, desde a Escandinávia e a Rússia até às Ilhas Britânicas e à Grécia. A passagem destes caminhantes, protegida por leis eclesiásticas e civis, trouxe em muitos sítios a melhoria das infra-estruturas viárias, incluindo pontes, meios náuticos e albergues. Pouco a pouco, o território europeu abriu-se à circulação de pessoas, mercadorias e ideias. Foi um sinal de esperança para as nações divididas.

Ao classificar o Caminho, em 1987, como Primeiro Itinerário Cultural Europeu, o Conselho da Europa reconheceu o excepcional papel da peregrinação compostelana na construção de uma identidade comum. Entretanto, o aumento espectacular do número de viandantes oriundos de outras partes do mundo que se verificou nas últimas décadas do século XX viria reforçar a escala internacional do fenómeno jacobeu, assinalada pela Unesco com a atribuição do título de Património da Humanidade ao Caminho em Espanha (1993) e França (1998). Ultimamente está-se a acentuar o pendor para a globalização. São cada vez mais os peregrinos oriundos da Austrália, Brasil, Estados Unidos e Japão.

Na sequência do Ano Santo de 2010, que trouxe à Galiza quase 10 milhões de visitantes, ajudando a região a ultrapassar três vezes o PIB de Espanha (a sua economia cresceu 0,6%, enquanto o restante país ficou em 0,2%), as atenções estão focadas numa dinâmica que valorize os aspectos mais autênticos da peregrinação. Entre os objectivos para 2011 conta-se a criação de uma rede europeia de sítios relacionados com o culto de Santiago. O governo galego associou-se para tal a dois pontos-chave da rota jacobeia, através de uma intervenção com o apoio do programa de cooperação territorial do Sudoeste Europeu (Sudoe/Feder). Uma dessas zonas, Le Puy-en-Velay, assinala o arranque da Via Podiensis, onde começa o Caminho Francês. A outra região é o Baixo Alentejo, que tem efectuado, desde 1993, grande esforço para reconstituir as vias de peregrinação, suscitando o interesse do Comité Científico do Caminho de Santiago.

Lugares de Santiago

A colaboração entre Espanha, Portugal e França encontra-se patente na exposição «Loci Iacobi – Lugares de Santiago, Lieux de Saint Jacques», organizada pelos três parceiros do projecto inter-regional com o mesmo nome: a Secretaria Xeral para o Turismo da Galiza, o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e a Communauté d’Agglomération du Puy-en-Velay.Abrangendo cerca de três dezenas de obras de arte, da época medieval ao século XXI, a iniciativa parte de uma reflexão acerca das raízes da peregrinação para revisitar alguns dos seus espaços privilegiados. Trata-se de um percurso aberto que tem o epicentro na reconstituição virtual da catedral de Compostela. Na escolha dos eixos nucleares da exposição transparece uma empatia muito especial, pondo em confronto a figura histórica de Santiago, que Herodes fez «matar à espada» no ano 43, e os seus tipos lendários – o peregrino e o guerreiro. Sobressaem as interpretações que a tradição artística fez de personalidades tão díspares, embora complementares. Noutro plano, a dimensão profundamente humana da peregrinação revela-se em curiosos testemunhos da religiosidade quotidiana, como as colheres com a imagem do apóstolo, dotadas de bordas afiadas, que podiam substituir a faca para cortar alimentos, ou as jóias talhadas em azeviche, um característico fabrico compostelano, tendo essa mesma imagem em lugar de honra. Entre as obras-primas presentes na exposição sobressaem as vindas do Museo das Peregrinacións, de Compostela, do Musée Crouzatier, de Le Puy, e de igrejas e museus do Alentejo (com realce para Beja, Moura e Santiago do Cacém).

É emocionante ver, lado a lado, conchas de vieira que acompanharam no túmulo peregrinos enterrados em cemitérios medievais da Auvérnia e pinturas de mestres como David Teniers II. Ou uma «Sagrada Família Peregrina» em prata, executada no México durante o período colonial, a pouco distância de uma escultura de Joana Vasconcelos. O desafio de aproximar obras do passado e da vanguarda constitui, de resto, um dos fios condutores da exposição, que deixa velhos preconceitos à porta. «Caminhos de Santiago», cartoon de Luís Afonso realizado em 2010 para a exposição, dá o mote para isto, mostrando a importância assumida pelo desenho humorístico na arte dos nossos dias. A sua integração dentro de um contexto dominado pelo património sacro não deixa de ser reveladora das metamorfoses ocorridas na maneira de abordar as questões religiosas.

Grândola na rota dos peregrinos

Sita num cruzamento de caminhos, Grândola deve a sua origem e o seu florescimento à posição estratégica. Convergem também aqui vários tramos do Caminho de Santiago, em particular o mais conhecido, que vem do Cabo de São Vicente e toca Odemira, Santiago do Cacém e Alcácer do Sal. A terra, outrora com o nome de Bendada, foi importante ponto de apoio aos peregrinos que tinham feito a dura travessia da serra do mesmo nome. Para o seu acolhimento existiu um pequeno hospital quinhentista, a cargo da Misericórdia.Quando a ermida de São Sebastião foi construída, em pleno século XVI, num arrabalde da vila, junto à estrada real, para proteger a comunidade local da peste, transformou-se de imediato numa referência para quem percorria o Caminho de Santiago e passava à sua beira. Este antigo santuário de romagem, que serviu também para velar os mortos, retomou agora, por iniciativa da paróquia local, em colaboração com a diocese e o município, uma nova centralidade, hospedando o mais recente pólo da rede museológica da Diocese de Beja.

Fonte: Alentejo Popular on-line, nº 383, 03-02-2011
Imagem: Sagrada Família Peregrina, México, séc. XVIII

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Na Rota do Imperador Carlos V treinando para o Caminho Português








Pelo segundo ano consecutivo aceitei, de bom grado, viajar quase 300 km de carro até Jarandilla de La Vera em Espanha, para percorrer a pé os 11 km que constituem a Rota do Imperador Carlos V. Comigo quiseram também partilhar esta memorável jornada o Rosalino Castro, a Ricardina Barrocas, a Maria Isabel Semedo, a Cruz Semedo e o Luís Temudo. Tudo se passou ontem, 6 de Fevereiro, num dia de temperatura amena, já a espreitar a Primavera. Trata-se de um percurso em que a trilogia história, tradição e natureza se combinam na perfeição. Em 25 de Outubro de 1555, já doente e depois de ter abdicado do trono e do cargo de Imperador da Alemanha, Carlos V dá inicio à viagem que o vai levar para o seu retiro no Mosteiro de Yuste, na encosta da Serra de Tormantos. Ao chegar a Jarandilla de La Vera, como as obras no Mosteiro ainda não estavam concluídas, Carlos V instala-se no castelo dos Condes de Oropesa. A 3 de Fevereiro de 1557, faz a última etapa da sua viagem de recolhimento até ao Mosteiro de Yuste, viagem que é conhecida como a Rota do Imperador Carlos V, que veio a falecer a 21 de Setembro de 1558, em Yuste, onde foi sepultado. A Rota tem o seu inicio no castelo dos Condes de Oropesa de Jarandilla de La Vera, hoje convertido na Pousada Nacional Carlos V e finaliza no Mosteiro de Yuste, inclui um desfile com trajes da época e o discurso de sua majestade ao povo. Até Aldenueva de La Vera, o percurso atravessa a ponte do Parral e grandes extensões de carvalhos. Ainda em Aldeanueva pode ser contemplada a Igreja de S. Pedro e a Fonte dos Oito Canos. Na saída desta localidade, a rota atravessa a ponte de Telhar (Tejar), sobre a Garganta dos Órfãos (Guachos). Daqui se pode desfrutar de um dos recantos mais atractivos do caminho, pela sua beleza e frescura, pelo que foi por aqui que o nosso grupo aproveitou para realizar uma primeira paragem para retemperar forças para a parte final da travessia. Em Cuacos de Yuste, classificado como Monumento de Interesse Histórico Artístico, degustámos “unas canhitas” em jeito de revisitação do “Camiño”. Na subida final até ao Mosteiro, merecem também visita o “Cemitério Alemão”, o Cruzeiro (Humilladero) e, já no final, a Igreja do Mosteiro. Em Cuacos de Yuste decorreu um agradável pic nic, sob o lema “Trás o teu e come do de todos”, na companhia dos nossos amigos de Castelo Branco, Proença-a-Nova, Sobreira Formosa, Medelim, Salvaterra do Extremo, Vila Velha de Ródão e Idanha-a-Nova (desculpem-me se esqueci alguém…), após o qual fomos até à praça central de Cuacos assistir à animação musical e degustar mais “unas canhitas”. Mais que um treino para o Caminho Português, esta travessia foi também de certa forma, um reviver de outras passagens, o reencontro com companheiros de outras jornadas e serviu também para promover as próximas actividades pedestrianistas a realizar no concelho de Nisa, “No Trilho da Serra de S. Miguel” (20 de Fevereiro) e a XII Rota do Contrabando (26 de Março). Deixo uma palavra final de agradecimento ao companheiro Joaquim Ramos pelo seu apoio e colaboração que tornou possível a participação do nosso grupo na Rota do Imperador, bem como agradeço os votos que nos desejou, juntamente com a sua esposa, de “Bom Caminho!”

Fonte: Associación para el Desarrollo Integral de La Comarca de La Vera
Associação Desportiva e Cultural de Sobreira Formosa/Proença-a-Nova