quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dia 9 de Abril de 2011: o regresso ao CAMINHO!

“Tudo é possível. O impossível apenas demora mais.”

Dan Brown

Permitam-me que abra um pequeno parêntesis nas publicações sobre a História do Caminho Português de Santiago, para vos anunciar em primeiríssima mão, que finalmente se fez luz para o regresso ao Caminho, pois já vos posso anunciar duas boas novas: temos a equipa reunida e temos a data para a realização da nossa próxima aventura: a travessia do Caminho Português de Santiago desde a cidade do Porto! Será no dia 9 de Abril, junto à Sé Catedral da cidade invicta que daremos inicio ao CAMINHO! Mas desenganem-se os que pensam que foi fácil chegar a consenso, pois não foi de todo! Teve que haver ponderação e reflexão sobre os aspectos do costume: profissionais, familiares e financeiros! Mas do salutar confronto e debate de ideias e de opiniões nasceu, finalmente, a luz que nos permitirá, cerca de 1 ano depois, voltar a reencontrar-nos para trilhar de novo a rota para Campus Stellae! Não sendo possível reunir outra vez todos os amigos do Caminho Francês, será contudo muito bom, reunir aqueles que talvez andaram mais tempo em grupo! Será sensacional "matar" saudades e dar uma sacudidela na nostalgia que se tem apoderado de nós! O contador com a contagem decrescente para o inicio da nova aventura já está online e a partir daqui regressa a já familiar rotina e azáfama com os preparativos, com os treinos, com os ensaios da mochila e o constante mete e tira para aliviar peso, com as últimas compras de material, com a preocupação permanente sobre o que levar e, mais importante ainda, sobre o que não levar…, enfim toda aquela adrenalina que irá aumentando até ao dia de todas as emoções. Agradeço de forma muito sincera, todo o esforço dos meus companheiros de jornada, no sentido de encontrar uma solução que tornasse possível o nosso reencontro e o regresso à magia do “Camiño”! E como o tempo urge e o relógio não para, mãos à obra que se faz tarde, pois o Caminho já começou!

Foto: António Pimpão

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Caminho Português de Santiago (I)



É na rede intrincada de itinerários jacobeus provenientes de todos os cantos da Europa que se enleiam os que têm origem em Portugal e tantos eles são quantas são as possibilidades reais de acesso de cada local ao túmulo do Apóstolo. Mas entre todos, assume particular relevo a estrada real Porto-Barcelos-Valença, onde confluem quase todos os demais, reforçando este percurso como a espinha dorsal dos caminhos portugueses de Santiago. Foi este o itinerário escolhido pela maior parte dos peregrinos que demandaram Santiago, pelo menos a partir do início do séc. XIV, o que bem se demonstra pelos inúmeros relatos que se conservam nos arquivos compostelanos e nas referências conhecidas aos seus caminheiros mais ilustres a Rainha Santa Isabel, Leão de Rotzmithal, Jerónimo Münzer, el-Rei D. Manuel, Confalonieri, Albani, e provavelmente também S. Francisco de Assis, o Beato Francisco Pacheco e tantos outros egrégios peregrinos que a memória não registou.

Com efeito, com a conclusão da ponte de Barcelos em 1325 e a remodelação da de Ponte de Lima na mesma época, foi possível criar um percurso rectilíneo que evitava a inflexão por Braga e a travessia a vau ou em barca dos rios mais perigosos. Rates, Barcelos, Ponte de Lima, Valença, Tui, Redondela, Pontevedra e Caldas de Reis definiram o novo itinerário medieval do Porto a Santiago, tendo apenas em comum com a velha via militar romana um ou outro troço urbano e as pontes ainda em uso para vencer as ribeiras mais buliçosas.

Foi também este percurso o comummente utilizado pela população que se movimentava de sul a norte na província de Entre-Douro e Minho e que não descurava a rapidez, a segurança e a comodidade. Por aqui correram multidões de gente anónima, caminheiros, viajantes, almocreves, mercadores, feirantes e romeiros. Foi percorrido pelas forças regulares, pelas Campanhas de Ordenanças, pela tropa-fandanga e por chusmas de aventureiros, de bandidos e de contrabandistas. Foi palco de escaramuças, de assaltos e de emboscadas, viu passar toda a sorte de gente e testemunhou cinco séculos de agitado relacionamento entre dois povos irmãos que o Destino não quis juntar. Os esquadrões de Soult ainda o percorreram em 1809 e nas refregas fratricidas que marcaram profundamente a viragem do regime, no segundo quartel do século XIX, deu o seu derradeiro contributo para o precário sistema de comunicações ao tempo disponível.

Foi a estabilidade que se começou a desenhar com a Regeneração que determinou o fim da velha estrada real. O fomento de uma nova rede de acessibilidades alterou profundamente o status quo e fez disparar um esforço de desenvolvimento que não se compadecia das relíquias de um passado arcaico e obsoleto, em tudo desconforme com o novo ideário.

É neste quadro e particularmente no Entre-Douro e Minho, que assume inusitada dimensão a política de melhoramentos empreendida por Fontes Pereira de Melo. Logo no início da década de 50 (bem entendido 1850) uma nova estrada alcança Viana, transpõe o Lima numa soberba ponte metálica e prolonga-se até Caminha e Valença. Uma outra, procedente de Braga chega a Ponte de Lima, para gáudio da população, que para um trajecto de seis léguas tinha uma jornada inesquecível por cangostas e lamaçais, com saltos de poldra em poldra. Enquanto isto, também a linha dos Caminhos de Ferro vai crescendo atinge Valença em 1882 e penetra em Espanha quatro anos depois. Barcelos e Ponte de Lima deixarão de ser pontos de passagem obrigatória nas deslocações norte-sul e Viana, já cognominada do Castelo, assume claramente a hegemonia e a liderança política e administrativa do Alto Minho.

Fonte: Guia do Caminho Português de Santiago, reedição de 2004
Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago
Foto: Ponte Medieval de Vilarinho (1ª etapa: Porto - Vilarinho/Vila do Conde)
Autoria: Samuel Santos