
No remanso duma paisagem que se tem mantido incólume com o correr do tempo, o caminho foi-se apagando, lentamente, nos lameiros das veigas e nas encostas esqueléticas da Labruja, onde até o mato mal resiste à erosão. Mas o traçado estava lá, razoavelmente conservado, adivinhando-se num cruzeiro, numas alminhas, nuns restos de calçada trilhada por fundas relheiras e quase sempre bem registado na memória da população local. A Xunta de Galicia, consciente da dimensão universal deste entusiasmo e da sua acção catalizadora da integração europeia, decide explorar outros itinerários jacobeus de reconhecido sentido histórico e promover igualmente a sua reutilização. Inicia as diligências com o velho Caminho Português, indiscutivelmente considerado o mais importante das chamadas rotas secundárias, abrindo concurso público para a sua identificação, caracterização e valorização. E no Ano Santo de 1993 é pela primeira vez divulgado o itinerário entre Tui e Santiago que os Peregrinos preferencialmente utilizavam quando provinham de Portugal.
Este magnífico trabalho foi realizado por uma equipa da Associação Galega de Amigos do Caminho de Santiago, que em boa hora entendeu que o Caminho Português não se esgotava na Galiza, e diligenciou todos os esforços para obter apoio na investigação em Portugal. Assim se alargou a equipe, primeiro em Valença, onde nasceu a Associação local dos Amigos do Caminho, e depois em Ponte de Lima. E passados quatro anos de rebuscada investigação e trabalho de campo, foi possível fixar o velho caminho para norte de Ponte de Lima, iniciando-se desde logo os trabalhos para sul daquela vila em direcção a Barcelos e ao Porto.
Actualmente, podemos considerar este itinerário definido e fixado entre o Porto e Santiago e em curso um conjunto de actividades que têm em vista a sua recuperação, sinalização e divulgação, promovidas pela Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago, que tem a sua sede em Ponte de Lima. A recuperação não envolveu ainda e muito menos de uma forma programada, a totalidade do itinerário, como sucede no troço galego por iniciativa da Xunta. São as respectivas Câmaras Municipais e as Juntas de Freguesia que, por solicitação da Associação, realizam acções pontuais de limpeza e redobram cautelas no licenciamento de intervenções públicas e privadas. Mas outros projectos estão também a arrancar, a criação de pelo menos dois albergues de Peregrinos, a proposta de classificação do Caminho Português como Património Cultural e a edição de um roteiro prático, cartografado à escala conveniente, que será um excelente complemento do Guia recentemente publicado em Pontevedra.
Fonte: Guia do Caminho Português de Santiago, reedição de 2004,