quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Caminho Português de Santiago (II)


Neste novo contexto não se justificava criar alternativas, nem mesmo o reforço ou a beneficiação do caminho velho, nomeadamente do troço Ponte de Lima-Valença, projecto indiscutivelmente difícil e oneroso, quando Braga e Viana regateavam da Munificência Régia as primícias do acesso à fronteira. Este percurso, por isso mesmo, perdeu o interesse, foi abandonado e rapidamente esquecido, jazendo as velhas cangostas vilipendiadas por William Kinsey, entre tojeiras e codessos impenetráveis. O manifesto desinteresse da ligação Barcelos-Ponte de Lima-Valença, preterida por outros acessos mais francos à fronteira, valeu-lhe, assim, alguma preservação, já que os outros percursos que justificavam benfeitorias conservam hoje do original pouco mais que um vago traçado.

No remanso duma paisagem que se tem mantido incólume com o correr do tempo, o caminho foi-se apagando, lentamente, nos lameiros das veigas e nas encostas esqueléticas da Labruja, onde até o mato mal resiste à erosão. Mas o traçado estava lá, razoavelmente conservado, adivinhando-se num cruzeiro, numas alminhas, nuns restos de calçada trilhada por fundas relheiras e quase sempre bem registado na memória da população local. A Xunta de Galicia, consciente da dimensão universal deste entusiasmo e da sua acção catalizadora da integração europeia, decide explorar outros itinerários jacobeus de reconhecido sentido histórico e promover igualmente a sua reutilização. Inicia as diligências com o velho Caminho Português, indiscutivelmente considerado o mais importante das chamadas rotas secundárias, abrindo concurso público para a sua identificação, caracterização e valorização. E no Ano Santo de 1993 é pela primeira vez divulgado o itinerário entre Tui e Santiago que os Peregrinos preferencialmente utilizavam quando provinham de Portugal.

Este magnífico trabalho foi realizado por uma equipa da Associação Galega de Amigos do Caminho de Santiago, que em boa hora entendeu que o Caminho Português não se esgotava na Galiza, e diligenciou todos os esforços para obter apoio na investigação em Portugal. Assim se alargou a equipe, primeiro em Valença, onde nasceu a Associação local dos Amigos do Caminho, e depois em Ponte de Lima. E passados quatro anos de rebuscada investigação e trabalho de campo, foi possível fixar o velho caminho para norte de Ponte de Lima, iniciando-se desde logo os trabalhos para sul daquela vila em direcção a Barcelos e ao Porto.

Actualmente, podemos considerar este itinerário definido e fixado entre o Porto e Santiago e em curso um conjunto de actividades que têm em vista a sua recuperação, sinalização e divulgação, promovidas pela Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago, que tem a sua sede em Ponte de Lima. A recuperação não envolveu ainda e muito menos de uma forma programada, a totalidade do itinerário, como sucede no troço galego por iniciativa da Xunta. São as respectivas Câmaras Municipais e as Juntas de Freguesia que, por solicitação da Associação, realizam acções pontuais de limpeza e redobram cautelas no licenciamento de intervenções públicas e privadas. Mas outros projectos estão também a arrancar, a criação de pelo menos dois albergues de Peregrinos, a proposta de classificação do Caminho Português como Património Cultural e a edição de um roteiro prático, cartografado à escala conveniente, que será um excelente complemento do Guia recentemente publicado em Pontevedra.

Fonte: Guia do Caminho Português de Santiago, reedição de 2004,
Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago
Foto: Serra da Labruja, junto à Cruz dos Franceses (4ª etapa: Ponte de Lima/Valença-Tui)
Autoria: http://www.cm-pontedelima.pt/noticia.php?id=454

3 comentários:

  1. Olá,Descobri o blog a fazer uma pesquisa sobre o caminho de Santiago. Se há algo que tenho de fazer na vida é o caminho de Santiago, o meu maior problema é que não tenho companhia! Sei que o devia fazer sozinha, mas falta-me a coragem. O meu marido e os meus amigos dizem para não os convidar para "andar". Gostava de saber se o grupo que sai em Abril do Porto é um grupo que já se conhece ou se está aberto a novas pessoas? Acha seguro fazer o caminho sozinha? Obrigada
    O meu nome é Lara, tenho 39 anos e moro em Tavira. laarasobral@hotmail.com

    ResponderEliminar
  2. Olá, boa noite

    Antes de tudo quer agradecer-lhe a visita que fez ao nosso blogue. De facto fazer o Caminho de Santiago é a aventura das nossas vidas, é uma experiência única! Há alguns anos a esta parte que dedicamos algum do nosso tempo livre ao pedestrianismo em geral e ao Caminho de Santiago em particular. Por uma maioria de razões, é sempre aconselhável fazer o Caminho acompanhada, no entanto, há pessoas que optam por fazê-lo em solitário por motivos pessoais ou espirituais. Também não é menos verdade que, no fundo, nunca irá estar sozinha, inevitavelmente cruzar-se-á com outros peregrinos, ou não fossem os Caminhos Francês e Português os mais concorridos. Existe também já uma boa rede de apoio ao Caminho, nomeadamente, de albergues que facilitam em muito o alojamento e descanso dos peregrinos, principalmente, no norte de Portugal e em praticamente toda a Espanha. Somos de facto um grupo que já nos conhecemos e que temos partilhado grandes travessias a pé, quer no Caminho de Santiago, quer noutras caminhadas. O Caminho de Santiago é livre, não é de ninguém em particular e é de todos em geral, por isso, esteja à vontade para se juntar a nós em Abril próximo.

    Com os melhores cumprimentos
    (Ultreya et Suseya!),
    Sérgio Cebola

    ResponderEliminar
  3. Ola Lara e Sergio e a todos os leitores deste blog!

    Chamo-me Helena e estou exactamente como a Lara, gostaria imenso de fazer o caminho a pé de Valença a Santiago de Compostela mas não tenho amigos interessados... não gostaria de ir sozinha, sei que há muita gente a percorrer o caminho mas sentiria-me mais apoiada e menos sozinha se integra-se um grupo.
    Estive inicialmente a ponderar fazer o caminho na semana anterior á Páscoa (assim só tiraria 4 dias de férias e teria outros 4 para descansar) mas alertaram-me para o mau tempo que possa ocorrer e eu gostaria de fazer o caminho sem chuva!!! Assim sendo em Junho seria um periodo bom!!! Se alguem pertencer a um grupo que tenha planos para esta altura ou até criar um grupo entre em contacto comigo, o meu e-mail é helena_antunes@portugalmail.pt

    Cumprimentos,

    Helena Antunes

    ResponderEliminar