quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Caminhos

Para quê, caminhos do mundo,
Me atraís? — Se eu sei bem já
Que voltarei donde parto,
Por qualquer lado que vá.

Pra quê? — Se a Terra é redonda;
E, sempre, tem de cumprir-se
A sina daquela onda
Que parece vai sumir-se,

Mas que volta, bem mais débil,
Ao meio do lago, onde
A mãe, gota d'água flébil,
Há muito tempo se esconde.

Pra quê? — Se a folha viçosa
Na Primavera, feliz,
Amanhã será, gostosa,
Alimento da raiz.

Pra quê, caminhos do mundo?
Pra quê, andanças sem Fim?
Se todo o sonho profundo
Deste Mundo e do Outro-Mundo,
Não 'stá neles, mas em mim.

Francisco Bugalho, in "Paisagem"
Foto:António Pimpão

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O meu sentir de andar nisto

Desde jovem que sempre me senti um pequeno aventureiro, aos 18 anos depois de concluir o meu curso industrial na cidade da Beira (Moçambique), eu e o meu grande amigo de infância Nelo Mota, resolvemos ir, entre boleias e a pé, desde a Beira (cidade onde vivíamos) até Cahora Bassa. Na altura, ainda durante a construção da barragem, o sentimento era a procura de novos mundos, de novas emoções, assim como, a procura de um pouco de liberdade em relação à dependência financeira dos nossos pais.

Na altura não foi fácil tomarmos essa decisão, além da guerra colonial tínhamos pela frente cerca de 900 km.

Passados 31 anos e depois de algumas surpresas da vida, em 2005, também em comunhão com o amigo João Miguéns, pensámos em nos aventurar numa caminhada, qual prova de orientação (!?), de Nisa a Fátima, organizada muitíssimo bem pelo José Louro, a que o amigo Sérgio já fez referência num dos textos deste blogue.

Foi o retomar de prazeres que anteriormente já tinha sentido, a paixão pela natureza, a sensação de liberdade quando caminhamos, e acima de tudo o convívio e as novas amizades.

Em 5 anos já fiz pequenas, médias e grandes rotas, como se diz na gíria já tenho muitos quilómetros na bagagem (mochila), mas é para continuar enquanto me sentir bem, tanto física como psicologicamente.

Esta aventura no Caminho Francês de Santiago é um misto de aventureirismo e de pão para o espírito, o sentimento de peregrino prevalece ao do caminheiro, a Fé, que muitas vezes esquecemos, empurra-nos de quando em vez para este tipo de desafio!

Texto e foto: Rosalino Castro

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Na Rota do Imperador Carlos V






Decorreu no dia 7 de Fevereiro de 2010 em Jarandilla de La Vera, Cáceres, Espanha, a XI edição da Rota do Imperador Carlos V, uma conhecida rota turística, de interesse histórico e cultural, constituída a partir de um episódio da sua vida. São 11 km plenos de história, desde Jarandilla de La Vera, com passagem por Aldeanueva de La Vera e Cuacos de Yuste, para terminar junto ao Mosteiro de Yuste, perto do qual o Imperador terá passado os últimos tempos da sua vida. Este percurso é, no fundo, a recriação do último trajecto efectuado por Carlos V, no dia 3 de Fevereiro de 1557, após ter abdicado do trono de Espanha. O programa das comemorações decorreu entre 5 e 7 de Fevereiro, incluiu rotas pedestres e equestres, mercado renascentista, gincanas infantis, exibição de tiro com arco, exibições teatrais e actuações de grupos de musica folk, culminando no dia 7 com a Rota pedestre que atraiu cerca de 5000 “senderistas”/caminheiros de Portugal e Espanha. O percurso da Rota do Imperador é, de facto, muito bonito, saindo de Jarandilla, passa pela Puente Parral na Garganta de Jarandilla, de onde se vislumbram as magnificas vistas da Serra de Gredos, atravessa Aldeanueva em direcção a Cuacos, passando pela puente del Tejar. Uma vez chegados a Cuacos de Yuste, onde se pode apreciar o seu centro histórico, seguimos pela Rua dos Hornos, cruzamos a estrada e seguimos por caminho empedrado até uma estrada que nos leva ao Mosteiro de Yuste. Este percurso tem uma duração aproximada de 3 horas. A Rota do Imperador foi para nós, em particular, um bom treino de preparação para o caminho Real Francês de Santiago, uma primeira adaptação a um território que irá ser o nosso “lar” durante um 1 mês. Foi pena o Pimpão não ter tido possibilidades de estar presente, teria gostado bastante, disso estou certo! Apesar de ter sido uma viagem um pouco desgastante, mais de 300 km com uma noite mal dormida em Idanha-a-Nova e de eu me ter constipado fortemente já no final do dia, ainda assim valeu bastante a pena e por certo iremos lá voltar para o ano! Esta foi também uma oportunidade para reencontrar companheiros de outras caminhadas, o José Luís Cardoso, o Rui Samarra, o António Moroso, o Jorge Verganista e o Joaquim Ramos que, imagine-se, vai também fazer o Caminho Francês de Santiago a partir de Astorga, na companhia da sua esposa, no dia 7 de Maio, “pode ser que nos encontremos!”, disse-lhe eu e daqui lhe endereço Votos de Bom Caminho! Uma palavra também de agradecimento ao Luís Temudo e à Maria da Graça Cesário que nos fizeram companhia nesta jornada! Termino com as palavras do Castro, já no final do dia no regresso a casa, “Acho que estou pronto para o Caminho! Podia partir amanhã! Não, amanhã não, na 4ª feira, teria primeiro que arranjar a mochila e despedir-me da família!”

Texto: Sérgio Cebola

Fotos: Rosalino Castro e Maria da Graça Cesário