terça-feira, 2 de novembro de 2010

Entrevista: TRÊS “BICIGRINOS” NO CAMINHO FRANCÊS DE SANTIAGO






11 dias, 925 km e muitas horas a pedalar, foi este o desafio a que se propuseram os nisenses Emanuel Ribeirinho e João Oliveira que, juntamente com o amigo Angel Oliveira, fizeram o Caminho Francês de Santiago em bicicleta. Até Hendaye, no sul de França, o percurso foi de comboio, mas daí até Saint-Jean-Pied-de-Port, onde se inicia o Caminho, e até chegar a Santiago de Compostela não largaram as bicicletas. Aqui fica o relato a três vozes dos "bicigrinos", que entre 5 e 15 de Outubro viveram uma aventura inesquecível.

Jornal de Nisa (JN): Como surgiu a ideia de fazerem o Caminho?
Emanuel Ribeirinho (ER): Estive quase dois anos sem gozar férias e quando foi para marcar as férias de 2010 nem sabia o que fazer a tantos dias! Apetecia fazer algo diferente, uma aventura para recordar mais tarde. O João também já tinha demonstrado vontade em o fazer, depois houve a experiência do Sérgio Cebola, era ano xacobeo... e porque não vamos também?! Isto nos primeiros meses do ano. As dúvidas eram muitas, dado o grande número de dias a pedalar, será que estamos preparados?
Angel Oliveira (AO): Foi de brincadeira praticamente! Um colega falou no assunto, mas em relação ao Caminho Português desde o Porto, confraternizo com o Emanuel que também já tinha a ideia com ele, mas afirma ele "para fazer, é fazer o Francês". Pouco tempo depois ele diz que tem mais malta (João e Ivo). Infelizmente o colega não estava convencido, ou a ideia de fazer o Francês não era a de melhor agrado.
João Oliveira (JO): A ideia surgiu do amigo Emanuel.

JN: Quais as principais dificuldades que encontraram?
ER: Subir os Pirinéus, o primeiro dia do Caminho de Santiago! Seriam 20 km sempre a subir, arrancamos da cota 200 e atingimos a 1500. E para dificultar as coisas, sentia-me cansado devido à etapa de ligação no dia anterior, o que me deixou bastante apreensivo já que estávamos no inicio da aventura, faltavam 10 dias sempre a pedalar e no dia seguinte tínhamos a subida mais complicada de todas. No entanto já tinha interiorizado tanto a dificuldade que seria essa subida, que acabamos por atingir o topo muito mais cedo que o previsto. Só no topo revelei o quanto estava apreensivo no dia anterior, surpresa das surpresas, esse sentimento era comum a todos!
AO: Muito sinceramente, após o dia da ligação (um dia que era suposto não cansar, mas que no fim "fez mossa"), fiquei preocupado, ao ponto de não dormir bem a pensar que não conseguiria cumprir a subida dos Pirinéus. Pontualmente foi este o meu pior momento, posso afirmar também que, nos últimos dias embora tranquilos, o cansaço ía surgindo mai cedo.
JO: O vento e algum piso muito irregular.

JN: Há alguma etapa, localidade ou situação que vos tenha marcado mais e porquê?
ER: Eu saliento o final do dia em Sárria, onde reencontrámos um colega peregrino que nos tinha acompanhado durante o dia, durante alguns quilómetros. Estávamos a jantar e voltámos a reencontrar-nos e convidou-nos para partilhar uma queimada galega com outros peregrinos que ele também tinha conhecido nesse dia, o que proporcionou um momento de boa disposição entre todos os peregrinos, permitindo por momentos esquecer o cansaço.
AO: Em tantos quilómetros é difícil só haver uma. Pamplona, talvez devido ao choque. Depois de tanto verde, tantas aldeias pequenas, chegar à primeira cidade "grande" do percurso, talvez tenha deixado em mim uma afinidade especial por ela. Molinaseca, difícil de explicar a sensação de "conforto" que senti na breve passagem que fizemos nesta pequena aldeia. Santo Domingo de la Calzada e Puente de la Reina, esta já mais para trás, foram aldeias que me identificava a viver lá. De salientar também que o grupo criou uma afinidade, nem só que seja pelo nome, com a aldeia de Mansilla de las Mulas.
JO: A primeira etapa, em pleno País Basco, com a subida dos Pirinéus e uma paisagem deslubrante.

JN: Depois de tantos dias de bicicleta, como foi chegar a Santiago de Compostela?
ER: Foi bom, foi um grande momento de satisfação, o objectivo estava cumprido!
AO: A desilusão, embora já antigos peregrinos tenham partilhado essa sensação. Quando chegas, sentes que és mais um e toda a aventura está no Caminho e não na chegada a Santiago mesmo. Mas de salientar a boa disposição com que o grupo dos "brasileiros" nos recebeu na Praça do Obradoiro, enquanto tentávamos tirar uma fotografia no meio de tanta gente.
JO: Sentimento de dever cumprido, sentimento de alívio de uma pressão que trazíamos desde o principio devido ao facto de estarmos em autonomia total.

JN: É uma experiência a repetir? Ou já têm outros planos para uma nova aventura?
ER: Após o "gostaram?" e o "correu bem?", essa é a pergunta que se ouve em seguida! E a resposta é: claro que sim e já temos planos. Em princípio será a Via Algarviana ou o Caminho Português desde o Porto.
AO: A repetir propriamente não sei...mas planos parece que não faltam: desde a Via Alagarviana, o Caminho Português desde o Porto, travessia de Portugal, o Caminho do Norte para Santiago, que o João e o Emanuel já tanto falam e, talvez, o Nissan Titan Desert.
JO: Sim, o mesmo Caminho a pé. Quanto a outros planos, temos em vista dois em Portugal (Via Algarviana e o Caminho Central Português para Santiago) e, em Espanha, o Caminho do Norte.

JN: Que conselhos dariam a quem quisesse fazer o mesmo percurso que vocês?
ER: Sobretudo imensa vontade em querer fazer o Caminho, preparação q.b. e aproveitem ao máximo todos os dias. Melhor que a chegada a Santiago de Compostela é a vivência do Caminho. Entrem em contacto connosco que nós esclarecemos qualquer dúvida (www.bomcaminho.wordpress.com).
AO: Planear! É o mais importante. Planear em detalhe, desde onde ficar e alternativas, levar boa informação, que felizmente já está muita disponível na net, ter em atenção o que levar, pois eu descuidei-me um pouco e qualquer grama a mais é reflectida não num dia, mas sim em dez. É também muito importante treinar e ficar preparado, pois não vamos querer ficar com o Caminho por completar. Mas o melhor conselho que posso dar é que uma aventura destas deve ser feita com um grupo excelente, como eu tive a oportunidade de fazer, em que em toda a aventura reina a boa disposição, e ir sempre metendo conversa com o maior número de peregrinos, especialmente com os que se encontrar no primeiro dia, pois eles também estão a iniciar uma aventura e muito se pode partilhar.
JO: Desfrutar ao máximo os dias programados e tentar obter os contactos de peregrinos que vamos conhecendo, para não deixar cair no esquecimento estes dez dias magníficos da nossa vida.

Fonte: Jornal de Nisa, nº 18, II Série, 29-10-2010, por Teresa Melato

domingo, 31 de outubro de 2010

O Caminho de Santiago no Cinema



As mais recentes realizações cinematográficas sobre o Caminho de Santiago chamam-se "A Caminho de Santiago" de Roberto Santiago, que estreou entre nós no passado dia 26 de Agosto e também o filme "The Way" com Martin Sheen, realizado pelo seu filho Emílio Estévez, que ainda aguarda data de estreia em Portugal. Para aguçar o apetite aos potenciais interessados, aqui ficam os links para os respectivos trailers:http://www.youtube.com/watch?v=GGf_Bhh0_iA, http://www.youtube.com/watch?v=fN7DBCbdyIQ.