domingo, 20 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 11
Dia 10 de Abril de 2013 (4ª feira)

Carcaboso – Cáparra - Aldeanueva del Camino (38,6 km)  

 Tal como já tinha referido, esta etapa não tem povoações intermédias nem pontos de apoio, pelo que a dividi em duas fases: até ao Arco de Cáparra e depois do Arco de Cáparra. Abandonei o albergue depois de um pequeno almoço reforçado e saí de Carcaboso  às sete horas da manhã em ponto, de véspera a Dona Helena tinha-me recomendado que a partir de um certo ponto não seguisse as setas, não segui o seu conselho e fui dar a um cruzamento onde a inexistência de sinalização me fez andar à nora, retomado o rumo certo e depois de algum tempo a abrir e  a fechar cancelas de cercas com vacas, fui dar a uma estrada que atravessei e entrei em trilhos de pé posto, reencontrando os meus três amigos da véspera, na companhia de uma vara de porcos que os seguiam vereda adiante, por entre o caminho enlameado e repleto de água das chuvas abundantes que tinham caído.

Seguimos a partir daí juntos até entrarmos triunfalmente no Arco de Cáparra, nas ruínas romanas da cidade com o mesmo nome, parámos mesmo junto ao arco, onde os meus companheiros decidiram comer a merenda que levavam, eu decidi ir ao Centro de Interpretação localizado a umas três ou quatro centenas de metros do caminho, fui simpaticamente bem recebido e agora me lembro que nem pedi para me carimbarem a credencial, grande lapso, bom havia lá umas máquinas de bebida e café, felizmente levava moedas, tomei uma bebida refrescante que juntamente com a minha comida soube a pouco e ainda deu para partilhar com a pessoa que se encontrava ali de serviço e que decidiu retribuir-me pagando-me um café e com quem brinquei que depois disso iria ter muitas visitas de portugueses quando soubessem que ali

davam café, enfim uns momentos bem passados, decidi regressar ao caminho e ver se ainda apanhava os companheiros, fui fazendo um vídeo das ruinas e quando cheguei á lomba de onde se avistava o arco, vislumbrei ainda os três peregrinos, mochilas às costas, caminhando na minha dianteira.

Foi uma etapa muito molhada, não em termos de chuva, mas devido ao facto de decorrer em campos de pastagens de vacas, passagem a vau de vários ribeiros e no final muito alcatrão até ao destino final, pelo meio ainda cruzámos com a carrinha de um Hotel das imediações que se predispõe a ir buscar ao caminho quem por programação de etapa decide pernoitar por ali, inclui o serviço a reposição do pessoal no local no dia seguinte, assim seguimos sempre a bater o pé na estrada e atravessando a N-630 por uma passagem subterrânea, chegámos às 16h15 e após mais 40 km palmilhados, a Aldeanueva del Camino, aí tivemos um pequeno percalço, a porta do andar superior do albergue estava fechada e tive que procurar pela aldeia o hospitaleiro, que, depois de detetado me garantiu que estava aberta, voltei de novo ao albergue e quando cheguei os meus companheiros já estavam a instalar-se mas diziam eles que água quente não havia, as instalações também deixavam um bocado a desejar, na verdade eu que até nem sou de grandes esquisitices, fiquei um bocado apreensivo, até porque tinha referencias de alguns “ bichos” por ali, na minha procura pelo hospitaleiro tinha dado com um novo albergue, aberto recentemente e nem pensei duas vezes peguei na trouxa e mosquei-me ligeiro, seguido de pronto pelo francês Cristian e pelo espanhol de Barcelona José, o alemão Tomas decidiu-se a ficar e iria descobrir no final do dia seguinte que não tinha tomado a melhor opção, ficámos os três no mesmo quarto, com casa de banho e chuveiro incluído, pagámos 15 euros, o albergue chama-se “La casa de mi abuela” e passam recibo, eheheh.

Neste albergue encontrei pouco depois, o primeiro português do caminho de quem já tinha ouvido falar mas com quem ainda não me tinha cruzado, não retive o seu nome, apenas fiquei a saber que é de Castelo Branco, embora não viva lá, pela manhã saí mais cedo que ele e nunca mais o vi, tive o cuidado de lhe deixar o meu contato e pedi à hospitaleira que lho entregasse, mas nunca mais lhe apanhei o rasto.
Bom, depois de instalados fui juntamente com o Cristian fazer compras para o caminho do dia seguinte e para o jantar, dado que decidimos ficar a jantar no albergue que tinha ótimas condições para, o que fizemos e que belo repasto eu tive com o Cristian, vimos um pouco de televisão, bebemos um chazinho e fomos algum tempo depois ver do vale dos lençóis, dormi bem que eu sei lá, das melhores noites desde que saíra de Sevilha.

Avizinhava-se um novo dia e o Cristian decidira que a partir daqui seguiria comigo até Fuenterroble de Salvatierra. Até Fuenterroble de Salvatierra, teríamos para palmilhar 42 km, com passagem pelas localidades de Hervás, Baños de Montemayor, Puerto de Béjar, La Calzada de Béjar e Valverde de Valedelacasa! Que Santiago e todos os druidas do Caminho continuem connosco! 









Texto e fotos: António Pimpão

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