sábado, 5 de junho de 2010

O Diário do Caminho: 8º Dia, 26 de Abril, Cirueña - Belorado











Partimos de Cirueña às 06h50, ainda o sol não tinha nascido e às 08h00 da manhã chegávamos a outro local mítico do Caminho: Santo Domingo de La Calzada! E que riquíssimo centro histórico possui! O Convento de San Francisco, as Muralhas e a Catedral de Santo Domingo! Como aqui passámos bastante cedo estes espaços ainda estavam fechados ao público, no entanto, deu para ver a sua imponência e fantástica arquitectura através do exterior, dos quais destaco, naturalmente, a Torre e um dos pórticos da Catedral! Por aqui nos “perdemos” um pouco, deambulando com calma, tirando fotos e revivendo também da lenda do galo de Santo Domingo que agora partilho convosco. Pois conta a lenda que há muitos e muitos anos, um casal de peregrinos alemães estava fazendo o Caminho com seu filho, de nome Hugonell. Ao hospedarem-se em Santo Domingo de la Calzada uma camareira apaixonou-se pelo jovem que era muito bonito. Como este amor não era correspondido, a camareira, numa terrível trama, escondeu entre os pertences de Hugonell uma taça de prata. Acusado de roubo, o jovem foi condenado à forca (pena para roubo naquela época). Seus pais, desolados, continuaram a peregrinação até Santiago. Na volta pararam em Santo Domingo e, para sua grande surpresa, o rapaz ainda estava na forca, porém inexplicavelmente vivo. Os pais dirigiram-se ao juiz que condenara Hugonell e relataram o que viram. O juiz, num acto de deboche, disse que só acreditaria que o filho deles estivesse vivo se o galo que estava comendo cacarejasse. E o galo cantou! O jovem foi inocentado e o milagre atribuído a Santo Domingo. Na Catedral de Santo Domingo de la Calzada encontra-se um belíssimo galinheiro em estilo gótico, onde vivem um imponente galo e uma galinha brancos, que são substituídos a cada 30 dias. Estes galos e galinhas são criados num galinheiro e mantidos pela mesma confraria que mantém o albergue de peregrinos de Santo Domingo de la Calzada (aquele que foi visitado pela rainha Sofia em 1993) e que também guarda os restos da forca utilizada para enforcar o jovem Hugonell. Dizem que, ao entrar na Catedral, se o galo ou galinha cacarejarem, é sinal de muita sorte! Santo Domingo de la Calzada, “donde el gallo ha cantado mismo despues de asado”. O tempo ia passando e teríamos que retomar o Caminho, pelo que lá fomos rumo a Grañón onde “desayunamos” pela 2ª vez: um delicioso e soberbo bocadillo de jambón com pão quente! Foi uma etapa em que passámos por muitas povoações separadas por poucos kms, com troços muitos planos e imensos campos de cereais. Chegámos a Belorado às 16h30 com mais 30,5 km nos pés e ficámos instalados no albergue Quatro Cantones com piscina, imaginem! Isto é que é qualidade de vida! Após o ritual do costume: botas à porta do albergue, banhito, lavagem de roupa e os tais 30 minutos de pés para o ar, fomos passear um pouco até à praça central de Belorado, após mais algumas fotos para a posteridade entrámos no restaurante bar café Bulevar, onde já estavam o Castro, o Pimpão e o Alexandre) e, uma vez mais ficou comprovado, que o mundo é mesmo pequeno: a proprietária era portuguesa, chamava-se Sónia, e segundo nos contou, há 13 anos que estava em Espanha, deixando Felgueiras em Portugal, a sua terra natal. Por aqui bebemos umas “botellas” de San Miguel, uns bocadillos e acabamos também por cá jantar o menu do peregrino: sopa de peixe (não façam confusões com a nossa, não tem nada a ver…), massa com molho de tomate, merluza e salada (macedónia) de fruta, tudo muito bem regado com o tinto da ordem e ajudado a digerir com o cafezito “solo” e inevitável “chupito” de aguardente, que se revelou um fantástico antídoto contra os roncadores! Ainda durante a tarde no albergue, travámos conhecimento com os brasileiros José Alencar e a Iraci (penso que era este o seu nome), até acho que já nos tínhamos cruzado com ela no Caminho.

Texto: Sérgio Cebola
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Recurso internet: http://katiaesteves.wordpress.com/2009/07/30/a-lenda-do-galo-de-santo-domingos/
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Fotos: 1 a 8 e 11 (António Delfino), fotos 9 e 10 (António Pimpão)
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1 /2 - Partida de Cirueña
3 – Torre da Catedral de Santo Domingo de La Calzada
4 – Pórtico da Catedral
5 – Ponte sobre o rio Oja (Santo Domingo de La Calzada)
6 – Entrada na Junta de Castilla y León
7 – Em Belorado, no café Bulevar (da portuguesa Sónia)
8 – Na piscina do albergue
9 – O José Alencar
10 – A Iraci
11 – O jantar no café Bulevar

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