terça-feira, 1 de junho de 2010

O Diário do Caminho : 5º Dia, 23 de Abril, Ayegui – Torres Del Rio


Desde que começámos o Caminho este foi o dia em que saímos mais cedo (06h55) e que chegámos também mais cedo (14h40). Por volta das 07h15 parámos na nossa já “velha” conhecida Fonte de Irache, mais uns momentos fotográficos, foi aqui que conhecemos os companheiros brasileiros António Sérgio e o inesquecível Alexandre Bittar (Alexander, The Great!), que fizeram o favor de nos tirar algumas fotografias junto à Fonte de Vinho. Eu queria comprovar se a quadra que estava escrita numa placa ao lado da fonte era verdade e que dizia “Peregrino! Se queres chegar a Santiago, com força e vitalidade, deste grande vinho bebe um trago e brinda à felicidade!”, e eu não estive com meias medidas e enchi uma garrafa de plástico de 0,50 l para a jornada que tínhamos pela frente! E afinal esta máxima só vinha reforçar a tal que dizia também “Com pão e vinho se faz o Caminho!”, por isso nada como comprovar estes ditos no “teatro de operações!




Voltámos a encontrar a Cris, entre Azqueta e Villamaior de Monjardin. Disse-nos que na noite anterior tinha ficado em Estella, o que me levou a conjecturar com os meus botões que ela, para além de estar com um andamento muito bom, deveria ter saído bem cedo de Estella, para estar já ao pé de nós. Voltámos a passar por ela um pouco mais adiante, estava parada a comer num albergue que oferecia café quente aos peregrinos. Foi uma etapa bastante plana e com a melhor temperatura para caminhar: céu nublado, tempo fresco e sem chuva, o que permitiu um ritmo mais rápido. Nem em Azqueta nem em Villamaior foi possível comer os habituais “bocadillos”, pois não havia bares abertos por ser ainda bastante cedo. Em Villamaior estava aberto o tal albergue que oferecia café onde a Cris parou.

Nós seguimos, passando ainda por uma fonte sem água. Faltavam-nos 9 km até Los Arcos, só tínhamos 0,5 de água, mas em compensação tínhamos 0,5 l de vinho tinto da Fonte de Irache e 4 barritas energéticas, q lual mistura explosiva para fazer disparar o nosso “turbo” até Los Arcos! E lá chegámos às 11h45, abancámos logo na praça central, na esplanada de um bar. Como na mochila ainda dispúnhamos de alguns géneros comestíveis, tais como presunto, chouriço e paté de porco, apenas comprei pão numa “tienda” (loja). Para acompanhar: vinho, cerveja e no fim café “solo” e digestivo. O Alexandre que já aqui estava quando nós chegámos, estava a comer “linguillas”, acho que era assim que se chamavam, um legume parecido com a vagem do feijão verde, em calda, muito picante! Eu e o Delfino provámos e de facto picava muito, que chatice do caraças, pois tivemos que beber mais uma “canha” para apagar o fogo! Após tirarmos algumas fotos em Los Arcos, retomámos o Caminho, eram 13h00.


Foram mais 40 minutos até Torres Del Rio, ficámos no albergue Casa Maribel, propriedade de uma família emigrante da Colômbia que também tinha um restaurante, onde acabámos por jantar. Após a inevitável pausa para banho e descanso nos beliches, estivemos em amena cavaqueira com os nossos companheiros de Caminho, na esplanada do albergue, lá estavam a Cris, o Alexandre e também aqui conhecemos o Javi de Menorca (D. Javier…), o Luís de Barcelona e o Hernâni do Brasil! Mais tarde aproveitei para visitar e tirar algumas fotos à Igreja do Santo Sepulcro de Torres Del Rio, muito idêntica à mítica Igreja de Santa Maria de Eunate (que não visitamos porque tínhamos que efectuar um desvio de 2 km). De facto valeu a pena a visita, pois tinha uma arquitectura interior fantástica, pena foi ter que pagar 1 euro para entrar, foi a primeira vez que paguei para entrar em igrejas, infelizmente é este o lado mais perverso do Caminho. Mais para o final da tarde, fui com o Delfino comer qualquer coisa e beber umas “canhitas” no tal restaurante, onde travámos uma amena cavaqueira com a proprietária, mãe do José, o hospitaleiro do albergue. Contou-nos as suas histórias de vida e o porquê de ser ter aventurado por aquelas paragens.

O jantar foi muito participado e alegre, ali se juntaram todos os que estavam no albergue e durante o repasto tirámos algumas fotos e compartilhámos as peripécias do Caminho! De certa forma era reconfortante saber que estávamos ali todos para o mesmo e em igualdade de circunstâncias a partilhar aquelas histórias que ajudavam, não só a passar o tempo, mas ajudavam também e acima de tudo, a ultrapassar as dificuldades do Caminho! Por volta das 22h00 ainda dei uma olhadela pela internet, retirei a roupa já enxuta do estendal e relaxei ouvindo um pouco de música, qual sedativo para um sono reparador!

Texto: Sérgio Cebola
Fotos: António Delfino

1 – O “desayuno” (pequeno-almoço) em Ayegui
2 – O inicio de mais uma jornada em Ayegui
3 – A (minha) segunda passagem pela Fonte de Vinho de Irache
4 – A Cris em Villamayor de Monjardin
5 – A caminho de Los Arcos
6 – A chegada a Los Arcos
7 – Torres Del Rio em pano de fundo
8 – Junto ao albergue de Torres Del Rio
9 – A Igreja do Santo Sepulcro
10 – A magnifica abóbada da igreja
11 – O jantar “peregrino”

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