segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Diário do Caminho : 4º Dia, 22 de Abril, Uterga – Ayegui


Voltámos a sair já perto do nascer do sol, com o relógio a marcar as primeiras 7 horas do dia. A temperatura estava um pouco abafada, acompanhada de uma chuva miudinha e persistente, que marcou presença no Caminho até muito perto de Ayegui. Deixámos de ver alguns dos primeiros companheiros de jornada em virtude de terem optado para terminar as suas etapas em locais diferentes dos nossos, como tinha sido o caso do basco de Vitória, de um casal de italianos, de 3 sul africanas e da tal alemã bastante alegre.
 
Em Obaños passámos por alguns terrenos preenchidos por imensos vinhedos muito bem tratados, era já um sinal inequívoco da nossa proximidade à “Comunidad de La Rioja”, região muito conhecida pelos excelentes vinhos que produz, dos melhores em toda a Espanha. Ainda em relação ao percurso, destaco obviamente a passagem por Puente La Reina, local mítico do Caminho Francês, uma vez que aqui confluem as rotas jacobeias franco-navarra e franco-aragonesa procedentes, respectivamente, de Roncesvalles e de Somport. Os historiadores dizem-nos que é na vila de Puente La Reina-Gares onde, efectivamente, as 2 rotas principais (mas não as únicas…) se unem e daqui seguem juntas até Santiago de Compostela. E facilmente comprovámos este facto, pois começámos a encontrar mais peregrinos a partir desta vila, fruto então da união desses Caminhos. A estratégica localização geográfica relativamente à rota jacobeia está também bastante evidente no vasto património edificado de Puente La Reina: o Monumento ao Peregrino, as igrejas do Crucifixo e de Santiago, ambas do século XII e a bela ponte românica de sete olhos construída pela Rainha D. Mayor para servir os peregrinos que por ali passavam, (daí talvez a origem toponímica de Puente La Reina).
Já muito perto do nosso destino (Ayegui), passámos por Estella (Lizarra em basco), também designada de “Ciudad del Camino”, assinalada como final de etapa do Caminho Francês. Possui também um interessante espólio de património edificado, nomeadamente, religioso, do qual destaco, entre outros, a exuberante arquitectura exterior da Igreja Paroquial do Santo Sepulcro. O Caminho passa pela rua central de Estella, pela sua zona mais antiga, muito bonita e acolhedora.
Foi no final desta jornada que sucedeu um episódio que, passado algum tempo, até deu vontade de rir mas que, na altura, não teve muita piada! A façanha já foi divulgada neste blogue à altura da sua ocorrência, tratou-se da visita antecipada à Fonte de Vinho de Irache, da qual eu e o Delfino fomos os protagonistas. Fui induzido em erro pela informação contida no meu guia do Caminho que sinalizava a Fonte de Vinho de Irache em Ayegui, quando na verdade esta se localizava 1 km e qualquer coisa depois de Ayegui, e não sei porquê convenci-me que o albergue seria também por aí, moral da história: os nossos companheiros já instalados no albergue (por onde nós até já tínhamos passado…) e eu e o Delfino na Fonte que dava água e vinho a contribuir activamente para a divulgação internacional das Bodegas (Adegas) de Irache! Quando caímos na realidade, já não achamos tanta piada, mas vistas as coisas pelo lado positivo, a triste sina de termos que fazer o mesmo caminho 3 vezes foi francamente atenuada pela nossa vantagem em poder efectuar 2 reabastecimentos na memorável Fonte de Vinho de Irache!

Por toda esta voltinha a mais chegámos ao albergue de Ayegui já depois das 17h00, concluindo uma etapa com 31,7 km oficiais (acrescidos de mais 1 km com IVA incluído, não oficial…). Após o banho da ordem e um momento de merecido descanso, lavei as botas e alguma roupa (havia máquina de lavar e secar), jantámos no restaurante do albergue, repasto rebatido com café “solo” e uma aguardente caseira de Chaves (estamos mesmo por todo o lado, é um facto incontornável…). Antes da deita, aproveitei para por o Diário em dia e já na cama tempo ainda para ouvir um pouco de música, era importante relaxar, a parte final da jornada tinha sido muito agitada!

Texto: Sérgio Cebola
Fotos: António Delfino

1 – Partida de Uterga
2 – Puente La Reina
3 – Durante a travessia da Puente (La Reina)
4 – A bonita Puente (La Reina)
5 – Igreja Paroquial do Santo Sepulcro (Estella)
6 – Estella
7, 8 – Fuente Del Vino de Irache

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