terça-feira, 22 de junho de 2010

O Diário do Caminho: 26º Dia, 14 de Maio, Pedrouzo de Arca – Santiago de Compostela


















E ao vigésimo sexto dia consecutivo a percorrer a pé o Caminho Francês, desde o sul de França em Saint-Jean-Pied-de-Port, chegávamos finalmente à cidade do Apóstolo Santiago Maior: Compostela! Eram 11h30 da manhã (hora espanhola) quando entrámos na Praça do Obradoiro, debaixo de chuva que tinha voltado a cair! Mas já lá vamos à chegada! Partimos de Pedrouzo de Arca bastante cedo, às 06h40 da manhã, para percorrer 23,1 km até Santiago! Como já disse a chuva voltou a fazer das suas, praticamente desde que saímos, mas com mais intensidade a partir do Monte do Gozo! Continuação dos bonitos trilhos de bosque, a espaços com algumas manchas de eucaliptal. Parámos no Monte do Gozo, a 4,7 km de Santiago, para descansar um pouco e comer alguma coisa. Aproveitámos também para tirar algumas fotografias junto ao monumento do Monte do Gozo. Retomámos o Caminho, com um misto de ansiedade e nervoso miudinho, era uma sensação fantástica a de ter a noção que estávamos quase a concluir a 1ª parte de uma grande odisseia! Às 11h00 transpúnhamos a placa toponímica de Santiago e às 11h30 chegávamos à Praça do Obradoiro e à Catedral! Muita emoção à flor da pele, felicitações mútuas, mensagens de telemóvel para as respectivas famílias e muitas fotografias para memória futura! Como não se podia entrar com a mochila na Catedral, fomos deixá-las num local onde as guardavam por 1 euro. Já com menos peso nas costas, começámos então a dar inicio ao cumprimento dos diversos rituais próprios de quem aqui chega, após muitos dias a caminhar! Depois de muito tempo na fila, lá entrámos finalmente na Catedral para o tradicional abraço ao Apóstolo, depois fomos à Oficina do Peregrino carimbar a credencial e levantar a tão desejada Compostela. Ficámos alojados numa pensão muito simpática na Rua de Santa Cristina, perto da Catedral, propriedade da D. Pura Iglesias Vilaseco. Por 12,5 euros, com cozinha à nossa disposição, um preço também ele muito simpático! Almoçámos a meio caminho, entre a pensão e a Praça do Obradoiro, no café Cepeda, penso que se chamava assim. Por 8,5 euros comemos muito bem: caldo galego, costeletas grelhadas com acompanhamento, água, vinho, doce, café, chupito. Durante a tarde efectuámos uma visita mais demorada pela Catedral, um ambiente de paz e reflexão, o Delfino fez um vídeo fantástico de um senhor a tocar pífaro, uma melodia muito bonita e a condizer com o espaço onde nos encontrávamos! Já mais tarde acompanhámos o Alexandre aos correios, onde queria levantar um casaco seu que tinha expedido de Pamplona. Estava a fazer frio e a chuva tinha recomeçado, pelo que agora iria fazer jeito para os 4 dias que faltavam até à costa da Galiza. À excepção da brasileira Iraci (do albergue de Belorado) que encontrámos nos correios, não vimos mais ninguém conhecido, nem o André, nem o António e nem o Javi. Aproveitei para enviar um postal de Santiago para casa, como forma de registar a nossa chegada! A senhora dos correios ofereceu-me um conjunto de 4 postais alusivos à peregrinação, disse-me que era “regalo” dos correios, agradeci-lhe! Antes do jantar fomos comprar comida para o dia seguinte e beber umas “canhas”! Jantámos no restaurante “Las Huertas”, muito perto da Catedral, era a despedida do Luís, que tinha convidado um amigo seu de Santiago, o Emílio, iria ficar em casa dele até domingo, dia em que regressaria a sua casa em Barcelona! A viagem seria de comboio e já tinha comprado o bilhete. Foi uma parte final nocturna muito difícil, muito por causa da despedida do Luís! Muitos discursos ao jantar que ficaram registados em vídeo. Trocaram-se algumas ofertas pessoais! Uma ultima bebida num bar de música celta que o Emílio conhecia e que fez questão que visitássemos! Muitos abraços ao Luís na sua despedida, junto à pensão! Neste momento estava em confronto o melhor e o pior do Caminho! O melhor: as amizades que se cimentam ao longo da sua travessia e o pior: as inevitáveis e duras despedidas! Com o Alexandre também vai ser duro, mas ainda temos 4 dias intensos pelo Caminho para desfrutar! São 23h45 quando escrevo as últimas linhas deste dia, hoje fizemos um pouco mais de boémia, mas todos merecíamos! Fizemos questão de pagar o jantar ao Luís e ao Emílio, era o mínimo que podíamos fazer! O Pimpão e o Castro ofereceram as suas t-shirts de Santiago (as que vieram de Nisa) ao Alexandre e ao Luís! Muita animação nocturna, tunas académicas e gaitas de foles debaixo das arcadas da Praça do Obradoiro! Francamente merecíamos celebrar este inolvidável Dia! Na manhã seguinte começava a 2ª parte da nossa já longa travessia: o caminho de Fisterra!

Texto: Sérgio Cebola
Fotos: 1 a 3, 4 a 17 e 20 (A. Delfino), 4 (A. Pimpão) e 18 e 19 (R. Castro)

1 – Já nas proximidades de Santiago
2 – Monte do Gozo
3 – Santiago (na entrada da Praça do Obradoiro)
4, 5 – O momento tão almejado da chegada junto à Catedral!
6 - Fachada principal da Catedral de Santiago de Compostela
7 – Na fila para o abraço ao Apóstolo
8 – O Delfino junto a um grupo de músicos de rua
9 – E a dançarina do grupo!
10 – Junto à igreja paroquial de Santa Maria Salomé
11 – O Delfino numa das bonitas ruas do Centro Histórico de Santiago
12 – Pormenor do interior da Catedral e do mítico botafumeiro!
13 – A Praça do Obradoiro
14 – O Alexandre agradecendo à Providência!
15 – Brilhante actuação de um grupo de gaitas de foles!
16 – As t-shirts do nosso patrocinador Poder Gráfico/Castelo Branco
17 – A Pátria sempre presente!
18 – Com o Alexandre
19 – Aproveitando para por o Diário em dia, sob o olhar atento do Luís!
20 – O jantar de despedida do Luís, a seu lado o Emílio!

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