terça-feira, 8 de maio de 2012

Caminho Primitivo: Dia 5 (18 de Abril: Berducedo - Castro)


Após uma noite de sono muito tranquila e de merecido descanso, graças ao facto de termos ficado com um dos pisos do Albergue Privado “Caminho Antigo”, exclusivamente por nossa conta, por apenas 15 euros cada um, lá nos aprontámo para sair do albergue, pelas 08h05 da manhã, já com uns bolitos e uma garrafa de leite com chocolate nos estômagos em jeito de “desayuno” quase volante. O pessoal que tinha ficado no albergue municipal já tinha passado cerca de 10 minutos antes. Com eles seguiam o Javi, a Pilar, a Viveca e o Jacob! Ainda estava bem fresca na nossa memória a aventura do dia anterior pela Variante dos Hospitais, era inevitável não se pensar nela! 

E não pude deixar de imaginar o que teria sido fazê-la com tempo limpo, decerto teríamos visto com mais deleite os cones e escarpas com enormes encostas até perder de vista, que devido ao denso nevoeiro não nos foi permitido contemplar! Troços de impor respeito que, devido à pouca visibilidade, nos passaram muito despercebidos! Embrenhados nestas divagações da mente, quase nem nos demos conta da prolongada subida por estrada, logo depois de Berducedo. A chuva tocada a vento forte começou a açoitar! Já perto de “A Mesa” cruzámo-nos com um casal de peregrinos espanhóis que, a espaços, nos fizeram companhia até à Barragem de Grandas de Salime! No trilho em descenso até à Barragem juntaram-se a mim e ao Defino, o Javi e a Pilar! Sempre pensámos que estariam na nossa frente!

O Javi estava com bastantes dificuldades físicas, ao nível dos joelhos e nos pés já com algumas bolhas que já tinham sido tratadas pelo Castro! Deu-nos a entender que seria difícil a sua continuidade no Caminho! Ficámos um pouco apreensivos e constrangidos, confesso! Era o nosso “velho” companheiro Javi, e o Javi não era um amigo qualquer! Em termos paisagísticos não resisto a destacar todo o caminho de acesso ao trilho de descida até à barragem, com enormes abetos de um e de outro lado e com o rio Navia a surgir no horizonte!  O trilho que desce até à Barragem é também ele muito bonito, no entanto exige algum cuidado, com uma caminhada mais técnica em virtude da grande quantidade de folhas de castanheiro prostradas no chão e que não deixavam ver o que estava por baixo! O “embalse” de Grandas de Salime, o rio Navia e toda a sua a paisagem envolvente foram, sem duvida, os pontos fortes desta etapa a solicitarem umas fotografias a preceito, com destaque para as que foram tiradas no e do miradouro da barragem! 

Só a chuva teimou em permanecer, tirando algum brilho à reportagem fotográfica! Pouco depois do início da subida, a seguir ao “embalse” fizemos uma pausa no bar do hotel Las Grandas para repousar um pouco e meter alguma coisa na barriga, carburante para o que ainda faltava até Castro! Neste bar estavam alguns turigrinos franceses com quem já nos tínhamos cruzado depois de Berducedo, seguiam com carro de apoio. Às 15h00 chegámos a Grandas de Salime, a maior vila por que tínhamos passado desde Tineo! Aproveitei para levantar dinheiro, a 2ª vez desde Oviedo! Não foi tarefa fácil despir a capa e a mochila, pois a chuva estava teimosa e ainda por cima caixa multibanco não tinha cobertura! Na saída de Grandas bebemos café e brandy para aquecer o corpo e o espirito! Os 2 km finais até Castro foram feitos por um caminho, que de caminho só tinha o nome, seria melhor chamar-lhe piscina, tal era a quantidade de água que caíra por ali! Chegámos ao albergue juvenil de Castro às 16h30, 32,3 km depois de Berducedo, debaixo de muita chuva, que não deu uma única trégua em todo o dia! Terminava a pior de todas as jornadas em termos de condições metrológicas adversas, decididamente!

O hospitaleiro facultou-nos o acesso um anexo junto ao albergue, onde nos pudemos livrar da roupa da chuva e das botas! Não resistimos a praguejar alguns impropérios à maldita intempérie! Não havia maneira de S. Pedro e de Santiago se entenderem! Raios! Foi mais uma etapa, como diriam “nuestros hermanos”, “rompe piernas”! Com um sobe e desde constante! Partilhámos um excelente jantar peregrino, onde marcaram também presença, para além do habitual grupo, 2 peregrinos de Barcelona, que se chamavam Pepe e Javi! A ementa constava de sopa de feijão, frango e “chipirones” (chocos)! De tarde já tínhamos desfrutado de uma variada coleção de cervejas, acompanhada de um delicioso presunto com azeite! Tudo isto no albergue! Os nossos receios em relação ao amigo Javi Mayor vieram, infelizmente, a confirmar-se! Estava muito debilitado fisicamente e decidira regressar a casa, via Grandas de Salime, na manhã seguinte! Terminaria o Caminho logo que lhe fosse possível! Deixou a sua capa ao Manuel Correia! Foi uma despedida geral muito sentida, com era de esperar!   

Fotos (autoria): António Delfino

1 comentário:

  1. Já há muito que não vinha a este vosso canto e nem imaginam a felicidade por estar a percorrer convosco um pouco desse Caminho Primitivo que tão boas recordações de deixou. Fico a aguardar pelo resto das estapas!
    Bom Caminho!
    Elisabete

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