sexta-feira, 29 de abril de 2011

Diário do Caminho Português: 3º Dia, 11 de Abril, S. Pedro de Rates/Lugar do Corgo (Vitorino de Piães) (35,170 km)




Voltámos ao Caminho bem cedo, eram 06h30 da manhã, ainda era escuro, aqui ou ali, principalmente fora das localidades, foi necessário recorrer ao precioso auxílio dos frontais e das lanternas. Pela frente aguardava-nos uma longa etapa, pelo que arrepiar Caminho era preciso! Às 10h15 da manhã e depois de atravessarmos a ponte do rio Cávado que une Barcelinhos a Barcelos, chegávamos a esta última! Logo depois da ponte efectuámos uma breve paragem para unir todo o grupo e para tirarmos algumas fotos, não só junto ao galo de Barcelos, mas também a alguns monumentos locais. Já próximo da saída da cidade, optámos por uma paragem um pouco mais prolongada para tomar pequeno-almoço num simpático café, onde fomos muito bem atendidos por uma simpática jovem a quem a mãe natureza tinha sido muito generosa! Já bem guarnecidos e, por conseguinte, bem mais animados lá prosseguimos a nossa jornada. Já durante a tarde destaco a passagem pela conhecida “ponte das Tábuas”, sobre um curso de água muita límpida a convidar a banhos, situada um pouco antes de Balugães, povoação onde parámos para descansar e reabastecer de água. Já um pouco antes de Balugães eu tinha ligado para a D. Fernanda (o tal simpático casal que há cerca de 8 anos acolhe peregrinos em sua casa…), para lhe dizer que já estávamos perto ao que a Sra. me disse para virmos à vontade, que ainda andava na distribuição do correio (era carteira…), mas que a sua filha Mariana nos iria receber. De resto a D. Fernanda já estava a contar connosco, eu já tinha entrado em contacto com ela ainda em Nisa. Enquanto repousávamos um pouco em Balugães, passaram alguns peregrinos, incluindo uma peregrina dinamarquesa Joanne, com quem já nos havíamos cruzado e que acabaria por ficar connosco no final da etapa. Passou também de carro um senhor bastante simpático a perguntar se precisávamos de alguma coisa e para estarmos tranquilos que já estávamos perto do Lugar do Corgo! Já mais repousados encetámos a parte final da jornada com forte determinação e pelas 15h40 chegávamos à casa da Fernanda, do Jacinto e de sua filha Mariana, em Lugar do Corgo, freguesia de Vitorino de Piães. Fomos recebidos pela Mariana que foi logo tratando de nos instalar, eu, o Alexandre, o Pimpão, o Delfino, o Rosalino e o Leonel ficámos num anexo em madeira no quintal nas traseiras da casa, muito bem apetrechado com muitas camas e casa de banho, a Joanne como era a única mulher partilhou a casa com os nossos anfitriões. Instalamo-nos, tomámos banho, mudámos de roupa, aproveitámos para descansar um pouco no jardim envolvente aos “nossos” aposentos. Estava também uma senhora de mais idade com a Mariana, que presumi ser sua avó. Puseram-nos muito à vontade, só esse pequeno, mas muito importante, gesto serviu para afastar grande parte do cansaço da jornada! Mas o melhor veio depois! Mais tarde chegou a Fernanda, após mais um dia na distribuição de correio, mais tarde, já ao jantar, disse-nos que também exercia um cargo na Junta de Freguesia de Vitorino de Piães, apesar de reconhecer não ter grande apetência para esse tipo de cargos. Logo se foi apresentando, perguntando se estava tudo bem connosco, se estávamos a ser bem tratados e se precisávamos de alguma coisa. Ofereceu-nos cerveja fresca para começar, mais tarde e enquanto travávamos amena cavaqueira na mesa do jardim, presenteou-nos com aquilo que achei ser um verdadeiro manjar dos Deuses, tendo a conta a hora do dia e a longa jornada que tínhamos realizado: almôndegas de bacalhau acabadas de fritar, pão, azeitonas, pistachos, tremoços e vinho verde tinto! Que mais se pode pedir a esta gente simpática e que provou saber receber! Falámos de nós, falámos do Caminho! A Fernanda disse ser a primeira vez que recebia peregrinos do Alentejo (aliás já me tinha dito isso ao telefone dias antes…) e como tal fazia muita questão de nos ter em sua casa! Nós tentámos retribuir o melhor que pudemos! Mais para o final da tarde fomos dar uma volta pelas imediações até ao bar mais perto, levámos uma grade vazia de superbock, havia que repor o stock em casa da Fernanda! Ao jantar fomos confrontados com alguns manjares do Minho: papas de sarrabulho, rojões com salada de alface, feijão com arroz e couve, omeleta para o Alexandre, café, digestivos da região (de meter respeito…) e vinho do Porto. Já perto do final do jantar conhecemos o Jacinto que chegou mais tarde e, surpresa das surpresas, afinal já o conhecíamos…, tratava-se do simpático senhor que nos tinha abordado em Balugães quando descansávamos junto à Fonte! Apesar destas pessoas fantásticas não cobrarem nada pela sua hospitalidade, entre nós chegámos a consenso quanto ao donativo a deixar, porém ficámos com a convicção de que não há valor que pague a forma simpática, fantástica e abnegada com que fomos recebidos por este casal e pela sua filha, bem-haja Fernanda, Jacinto e Mariana por nos terem ajudado a “trilhar” o Caminho de Santiago, muito obrigado por tudo! Daqui vos digo que foi o melhor acolhimento e hospitalidade de todos os Caminhos de Santiago que até ao dia de hoje já palmilhámos! Após a janta ainda fomos andar (como se ainda não tivéssemos andado que chegasse.lol!) mais para ajudar à digestão de tão intenso repasto! Fomos até ao café ver um pouco de televisão e já com o serão bem avançado regressámos aos nossos aposentos para nos deleitarmos com uma boa noite de sono. Ainda ouvi um pouco de música no telemóvel antes de o sono começar a rondar.

Fotos: António Delfino

3 comentários:

  1. Olá!

    Que bom saber notícias da Casa da Fernanda! :) Fico feliz por tudo se manter bem... Só lamento que o tempo não vos tenha permitido um mergulho junto à Ponte das Tábuas. Posso assegurar que a água, em tempo de calor, é deliciosa!! ;)
    Elisabete

    ResponderEliminar
  2. Olá, Elisabete

    O acolhimento e a hospitalidade em casa do casal Fernanda e Jacinto foi 5 estrelas! Pessoas fantásticas, onde incluo também a filha Mariana! São momentos como este que nos dão força para continuar a querer voltar sempre ao Caminho de Santiago! Relativamente à Ponte das Tábuas confesso que estivemos vai não vai para ir a banhos ou pelo menos para dar banhos aos pés, que por esta altura já estavam bem necessitados duma terapia desta natureza, mas como estávamos a precisar de reabastecer de água, optámos por continuar até Balugães para aí descansar um pouco, beber água e encher as garrafas.

    Bem-haja por acompanhar mais esta nossa aventura,
    Sérgio Cebola

    ResponderEliminar
  3. muito bem! esta sim é uma experiencia incrivel! não tinha ainda lido nada sobre esta forma de acolhimento, mas é uma excelente noticia!

    ResponderEliminar