domingo, 27 de junho de 2010

O Diário do Caminho: III Parte, De volta a Santiago e o regresso a casa






19 de Maio: de volta a Santiago

Levantámo-nos às 06h30 da manhã, arrumámos as mochilas e após comermos algo, encaminhámo-nos para a paragem dos autocarros, junto ao porto de Múxia. O autocarro para Santiago partia às 07h30. A rotina a que nos tínhamos habituado nos últimos 30 dias acabava de mudar! Pela primeira vez em 30 dias iríamos fazer uma ligação entre localidades de transporte público e não a caminhar! Nem dava para acreditar! O bilhete do autocarro custou 6,15 euros e levou 2 horas e 15 minutos até ao terminal rodoviário de Santiago de Compostela, onde chegou precisamente às 09h45. Comprámos logo os bilhetes de autocarro para o Porto, para onde partiríamos no dia seguinte às 10h30 da manhã, num carro da Companhia Alsa. O bilhete tinha custado 29,00 euros. A primeira surpresa do dia teve lugar quando estávamos no guichet para comprar os bilhetes, lá estava também o António Sérgio, nem mais nem menos que o brasileiro que tínhamos conhecido juntamente com o Alexandre na Fonte do Vinho de Irache, no inicio do Caminho! Ficámos radiantes e ele também! Já tinha também terminado o Caminho e ia até a Portugal (ao Porto) dar uma volta! Após amena cavaqueira lá nos despedimos. Apanhámos um autocarro que, por 0,90 cêntimos, nos levou até à Praça da Galiza, o mais perto possível que conseguimos da Praça do Obradoiro e da Catedral. Por coincidência (ou talvez não…) ficámos hospedados no mesmo local que no dia 14 de Maio. Deixámos as mochilas nos quartos e fomos dar uma volta pela parte velha da cidade. Aproveitei para levantar um prémio de 12,96 euros que (finalmente…) me saíra no euro milhões espanhol! Comprei umas estampas em pano do Caminho para por na mochila e um escudo em metal para por no bastão. Fomos assistir à missa na Catedral que, uma vez mais, estava repleta, muito à custa dos peregrinos que ali chegavam todos os dias! Valeu a pena esperar 1 hora para assistir ao momento mágico em que o bota fumeiro percorre o interior da Catedral! Impulsionado pela força motriz das mãos de 2 ou 3 pessoas que balançam para cima e para baixo a enorme corda de onde este se encontra suspenso, percorrendo todo aquele espaço sacro, impregnando-o de um intenso cheiro agradável de incenso a arder! O espectáculo terminou com uma ovação geral através de uma enorme salva de palmas, logo que o bota fumeiro cessou o seu vaivém! Um momento muito bonito! Assistir à eucaristia funcionou como uma oportunidade de balanço e de reflexão sobre todas as ocorrências do Caminho, que culminou com a bonita cerimónia do bota fumeiro, transmitindo uma sensação de paz interior! Almoçamos no “Las Huertas” o menu do peregrino: caldo galego, salmão grelhado, gelado, café solo e, claro está, o chupito! da ordem. O Delfino, como não quis assistir à missa, acabou por comer no “Cepeda” (onde almoçámos no dia 14 de Maio…). Ocupámos grande parte da tarde a conhecer um pouco melhor o casco histórico da cidade e a comprar “regalos” e recuerdos” para a família! Eu e o Delfino descobrimos um bar de cerveja guiness (belíssima!), propriedade de brasileiros. Até à hora do jantar saboreámos dose dupla desta mítica cerveja irlandesa! Por volta das 20h30 desfrutámos da nossa derradeira ementa do peregrino num bar/restaurante na zona histórica, perto da Praça do Obradoiro! Era interessante constatar a enorme quantidade de artistas de rua que por ali tentavam ganhar a vida! No restaurante, mais uma surpresa agradável: reencontrámos o Rafael (o brasileiro de Calzadilla de La Cueza), disse-nos que se estava a divertir imenso e que talvez fosse até Portugal, Alemanha e Holanda na companhia de umas amigas que conhecera no Caminho! Confessou-nos que tinha ficado com algumas mazelas num dos pés (quem não as terá, Rafael, quem não as terá…). Após o jantar passeámos pela Praça do Obradoiro onde, debaixo das arcadas, voltámos a assistir ao alegre espectáculo musical das tunas académicas em que o publico era convidado a participar. Voltámos ao bar Guiness, agora com a “companhia” completa. O Alexandre ficou surpreso por haver ali um bar com cerveja guiness, de que gostava muito! Ao sabor de umas “canhitas” assistimos a um excelente momento de música ao vivo protagonizado pela magnífica voz da brasileira Verónica Mendes (achou que ainda vamos ouvir falar nela…), acompanhada à guitarra pelo virtuoso Marcelo (Marcelão…). Ao intervalo viemos embora, não sem antes felicitarmos os músicos! Não poderíamos ter tido melhor despedida da cidade e do Caminho! Em especial o Alexandre, pois eram seus conterrâneos! Para nós também foi interessante ouvir a língua de Camões… com sotaque! O Delfino e o Pimpão foram para os quartos. Eu, o Castro e o Alexandre ainda fomos beber uma “estrella galicia” ao bar de música celta onde, no dia 14 de Maio, tinha ocorrido a despedida do Luís Martiñez. Por volta da 01h30 da manhã eu e o Castro fomos descansar. O Alexandre ficou um pouco mais, ainda tinha todo o dia seguinte para descansar, pois só partiria para o Brasil na 6ª feira de manhã.

Texto: Sérgio Cebola
Fotos: António Delfino e António Pimpão

1 – O reencontro com o António Sérgio
2, 3 – Um pouco mais refeitos junto à Catedral de Santiago
4 – Artistas de rua na Praça do Obradoiro
5, 6 – A missa e a preparação do bota fumeiro na Catedral

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