quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Diário do Caminho: 20º Dia, 8 de Maio, Fuentes Nuevas – Vega de Valcarce










Às 07h00 da manhã saímos do hostal “Monte Claro” em Fuentes Nuevas, com aquela chuva muito miudinha tipo “molha parvos” (e espertos…), a fazer-nos companhia até muito perto de Carcabelos, onde efectuámos uma curta paragem técnica para aliviar carga: a capa da mochila e o anorak. Voltámos a parar nas imediações de Villafranca del Bierzo, o Delfino sentiu uma ligeira indisposição, talvez por ter comido muito pouco de manhã, pelo menos foi o que eu achei. Mas ele achou que era do calor e de levar muita roupa vestida, pelo que voltou a aliviar carga e a coisa, de facto, melhorou! Chegámos a Villafranca del Bierzo por volta das 11h30 e após as fotos da praxe, abancámos na praça central, numa “terrassa” (esplanada) de um dos imensos bares que por ali existiam. Pedimos 1 tinto e 1 “canha” e, imaginem, a empregada era portuguesa, do Porto! O mundo é mesmo pequeno! Comemos bocadillos de chouriço e de queijo confeccionados por nós no dia anterior.
Em Trabadelo nova paragem para dose dupla de “estrella galicia” (belíssima cerveja!), acompanhadas de tapas de presunto e pão oferecidas pelo dono do bar. Entre Villafranca e Trabadelo, conhecemos um grupo de 4 francesas, acho que da zona de Bordéus, andavam a fazer o Caminho aos poucos, todos os anos faziam um trecho, este ano tinham começado em León. Ficaram no albergue de Trabadelo, pois hoje já vinham de Ponferrada. Nós prosseguimos até Vega de Valcarce. A etapa teve um pouco mais de alcatrão do que o habitual, caminhámos durante muito tempo ao lado da estrada, num separador para peões. Fez-nos companhia também, desde a saída de Villafranca até Vega de Valcarce, o imenso e tortuoso rio Valcarce!
Às 16h00 vencíamos mais uma etapa no Caminho Francês, após percorridos 33,8 km chegávamos a Vega de Valcarce! Ficámos logo no primeiro albergue, na entrada de Vega, pois como o Alexandre já lá estava, o Pimpão, o Castro e o Luís acabaram também por ali ficar e nós, por conseguinte, também! De seu nome “Albergue do Brasil”, lá fomos recebidos pelo hospitaleiro, um brasileiro que falava pelos cotovelos, de seu nome Itabira! Cobrou-nos 25 euros, com dormida, jantar e pequeno-almoço. Pareceu-me um valor um bocado exagerado, comparativamente com outros locais onde já tínhamos ficado, com a agravante do meu banho ter sido com água quase fria e 15 euros para jantar também me pareceu um pouco demais (ementa: salada mista, feijoada brasileira e doce). Ficámos, obviamente, muito contentes de termos reencontrado o Alexandre que, segundo nos confidenciou, tinha passado bastante mal na véspera perto de Molinaseca, com muitas tonturas e vómitos, ele achou que talvez tivesse sido de um chá que bebera no peculiar albergue “templário” de Manjarin. Felizmente já estava recomposto, graças a uns comprimidos naturais de alcachofra, muito bons para o fígado, que comprara em Molinaseca.
Já no final da tarde e enquanto escrevi estas linhas, saboreei pão, chouriço e queijo de cabra que o Alexandre muito gentilmente ofereceu, obrigadão Alexandre! Estamos a 6 dias de Santiago e amanhã aguarda-nos a mítica subida do Cebreiro (1.300 metros de altitude). Ficámos a saber, pelo livro de visitas do albergue, que a Cris também aqui tinha ficado no dia 3 de Maio! Durante a tarde conhecemos já no albergue, um simpático casal brasileiro, o João José e a Maria Zélia que, após amena cavaqueira, conseguimos convencer a não se ficarem por Santiago e a continuarem até Fisterra, que iria valer muito a pena! Consultaram o meu guia do Caminho, onde estavam as etapas até Fisterra, ficaram entusiasmados com a ideia e como tinham tempo de sobra, iriam seguir o nosso conselho! Mais tarde, penso que até comentei com o resto da malta, lembrei-me que se tratava do mesmo casal, com o qual eu e o Delfino, já nos tínhamos cruzado perto de Trabadelo.
O jantar foi bastante “sui generis”, com o Itabira a fazer as honras da casa e falando num inglês bastante peculiar (lol! lol! lol!), lá se foi apresentando a si e ao albergue. Cada peregrino presente foi convidado a apresentar-se aos demais e a dizer uma palavra sobre o Caminho, tudo isto antes de ser servido o jantar. Lembro-me que, para além da nossa malta, estavam presentes, entre outros, um grupo de alemães, um casal de coreanos que já tínhamos encontrado na subida para Foncebadón, o João José e a Maria Zélia e um americano. Foi um jantar muito animado. Lá fora a chuva, que tinha (re) começado a cair à nossa chegada a Vega de Valcarce, ameaçava continuar noite dentro! Um cenário muito pouco animador em vésperas de mais uma etapa de montanha!

Texto: Sérgio Cebola
Fotos: 1 a 6 e 8 a 11 (António Delfino), foto 7 (António Pimpão)

1 a 4 – Villafranca del Bierzo
5 – Ponte sobre o rio Valcarce (na saída de Villafranca del Bierzo)
6 – Rio Valcarce (visto da ponte)
7– Rio Valcarce (já nas imediações de Vega de Valcarce)
8 – Monumento ao Apóstolo Santiago Maior em La Portela de Valcarce
9 – A chegada a Vega de Valcarce
10 – Um jantar muito animado no “albergue do Brasil”
11– Idem, com o João José e a Maria Zélia ao meu lado

2 comentários:

  1. Queridos amigos, boa tarde!!!

    Fiquei muito feliz neste dia por reencontrá-los e a minha caipirinha que deveria ser o “cartão de visitas” acabou saindo pela culatra. Esclareço a quem não esteve lá: para receber o querido grupo luso-espanhol, organizei a preparação de uma caipirinha à la Brasil. Amassei os limões num pilão que estava com cheiro de alho que me foi emprestado pelo Itabira. Resultado, tivemos a primeira CAIPIRALHO do Caminho de Santiago, caipirinha com fortes “notas” de alho. Valeu mesmo a intenção e o Heroísmo do João José que praticamente tomou a cota do pessoal que deixou a iguaria de lado. Pessoal, prometo pra vocês que quando vierem ao Brasil para me visitar tomarão a melhor caipirinha de todos os tempos. Penso que o Rosalino está mais perto de cumprir a promessa!!!
    Um grande beijo a todos.

    Alex

    P.S. os CDs já estão prontos e enviarei ainda esta semana.

    ResponderEliminar
  2. Olá, Amigo Alexandre

    Bem haja por complementar o relato do meu Diário deste dia com a história do "Caipiralho"! Pois quando eu cheguei ao albergue do Itabira já se tinha passado essa história engraçada e já não pude registá-la devidamente no meu Diário, pelo que você fez muito bem em mencioná-la agora! Quando nos volatarmos a cruzar (seja lá onde for...)terei muito gosto em provar uma caipirinha "made by" Alexandre Bittar!!! Vamos também providenciar para lhe enviarmos as nossas fotos, logo que estejam em ordem para enviar eu te aviso!

    Meu Amigo um grande abraço,
    Sérgio Cebola

    ResponderEliminar