sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

As razões do “meu” Caminho

Aproveito o repto lançado pelo meu companheiro de jornada António Pimpão, para também tecer algumas considerações sobre o que me motiva e leva de novo a trilhar o Caminho de Santiago de Compostela, assim como o que me levou a trilhá-lo num passado recente. Não posso, contudo, especular sobre essas razões sem recuar 11 anos atrás, quando em mim nasceu o gosto pela descoberta a pé do que nos rodeia, durante a preparação e realização da I Rota do Contrabando, entre a Salavessa e Cedillo. O que de início era apenas mera curiosidade, depressa se transformou numa paixão avassaladora: descobrir a pé as maravilhas do património cultural e natural, ou seja, fazê-lo duma perspectiva muito diferente do que de carro ou de comboio, com aquela particularidade única que em determinados locais, só lá chegamos mesmo a pé! Fantástico! Foi, naturalmente, imbuído daquele sentimento que primeiro se “estranha” e depois se “entranha”, que, gradualmente, fui em busca de novos desafios, de novas motivações, de novas procuras, em suma, de novos objectivos! Foi assim, de forma instintiva, que surgiram as primeiras grandes travessias pedestres e quando dei por mim, estava no Caminho de Santiago! Seguindo toda esta linha de evolução enquanto pedestrianista, “senderista” ou “randonneur”, desde os trilhos agrestes do Contrabando até à Rota do Apostolo Santiago Maior, não é de estranhar por isso que o desfecho fosse este.Voltando ao tema do post, porquê fazer o Caminho de Santiago? Não resisto responder, num primeiro impulso, da mesma forma que João Garcia o fez, numa passagem do seu livro “A Mais Alta Solidão” quando, a determinada altura, se interroga “porquê subir montanhas? porque sim. É tão simples como isso!”, mas quando procuro motivos bem mais profundos, guardados algures nos lugares mais recônditos da alma, encontro uma mística profunda, porventura esotérica que envolve o Caminho, muito em particular, o Francês! Encontro toda uma tradição secular que nos apela e nos impele para a Sua realização, de forma quase compulsiva! Depois há, inevitavelmente, a motivação religiosa, que todos, mais ou menos católicos, mais ou menos praticantes, transportam consigo! Trata-se de uma questão bastante íntima e, deverá, como tal ser respeitada! No meu caso, não é a principal razão que me leva a trilhar o Caminho, mas, ainda assim, tenho a minha forma muita própria de religiosidade e de respeito pela Divina Providência, e não será por isso que deixarei de me sentir menos peregrino em relação aos demais, ou não fosse o peregrino também um caminheiro, um viajante, um viandante! Sendo certo que outras componentes do Caminho me motivam também, tais como a desportiva, a turística e a cultural, se tiver que enunciar qual a magna razão que me impele para o Caminho, não encontro apenas uma, mas sim a combinação de uma série delas: motiva-me fortemente a Sua mística, o Seu esoterismo, os Seus Rituais, a descoberta e conquista do desconhecido, a transposição de metas, que culminam em absoluto, num momento de busca, de encontro, de partilha e de redenção pessoais!

Texto: Sérgio Cebola

Foto: Albergue de Cea, Via da Prata, Caminho de Santiago

Autoria: António Pimpão

Sem comentários:

Enviar um comentário