terça-feira, 24 de agosto de 2010

A História de Pedro e Jacomina (I)

Pedro, Jacomina e Joachim havia mais de 2 meses que tinham partido da Alemanha, para percorrerem a pé o Caminho até Santiago da Galiza, para onde se dirigiam em romaria. Como devotos que eram, há muito que tinham decidido peregrinar pelos Caminhos do Apóstolo e desde essa altura que muitos planos e projectos tinham delineado em conjunto, para levarem a bom porto os seus intentos. Ainda assim e em virtude dos muitos imprevistos de tão épica viagem, várias tinham sido as alterações efectuadas já em pleno trajecto, sendo a mais significativa destas a alteração do percurso. Atravessar o norte de Espanha pelo Caminho de França era uma verdadeira aventura, devido aos muitos meliantes disfarçados de falsos profetas que assaltavam, sem dó nem pudor, grande parte dos peregrinos que por ali passavam. Pelo que e não fosse o Diabo tecê-las, decidiram percorrer a Espanha de norte para sul, entrar em Portugal a sul do Tejo e percorrer o Caminho Português até Santiago. Era mais longa a peregrinação, mas mais segura! Para além disto, tinham todo o tempo do mundo para a realização dos seus intentos! Pedro era casado com Jacomina e irmão de Joachim, eram oriundos de Ulm, pequena cidade alemã, situada junto ao rio Danúbio. Começaram a peregrinação no dia 2 de Janeiro de 1455, um dia depois da entrada no Ano Novo, esse tinha sido o desejo unânime, que a dita viagem fosse um bom prenúncio para uma santa entrada no Novo Ano, assim tinham demandado ao Apóstolo! A participação de Joachim justificava-se não só pela sua inquestionável devoção, mas também para, juntamente com Pedro, garantirem o reforço da protecção a Jacomina. Após 2 meses e 14 dias de viagem e já com o crepúsculo no horizonte, os três peregrinos chegavam à vila espanhola de Valência de Alcântara, junto à fronteira com o reino de Portugal. Era o final do dia 16 de Março de 1455, tinham caminhado muito, ansiavam por um banho, comida quente e uma merecida noite de descanso. Conseguiram tudo isso numa albergaria já na saída de Valência de Alcântara. A hospitaleira, simpática e bonacheirona, disponibilizou-lhes um banho quente, carne assada, pão, vinho e cama confortável, tudo isto apenas a troco de um pequeno donativo. Pedro ficou tão comovido com tamanha recepção que não resistiu a dar um pouco mais que o donativo, facto que se reflectiu no brilho dos olhos da hospitaleira e no seu largo sorriso, ao mesmo tempo que exprimia um sonoro “muchas gracias, señor!” Comparativamente com outros locais onde já tinham pernoitado, aquele era uma verdadeira dádiva dos céus! Quando recolheram aos quartos a noite tinha caído por completo, a sinfonia nocturna dos grilos lá fora, fazia antever que a mudança de estação estava iminente, a Primavera parecia querer dizer ao Inverno que este estava de partida! Com um sopro de fadiga, Jacomina apagou as velas, Pedro e Joachim já dormiam, descansar era preciso para retemperar forças rumo a mais uma jornada na Rota do Apóstolo!

Imagem: http://arquehistoria.com/files/peregrinos.png

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