sexta-feira, 11 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 4
Dia 3 de Abril de 2013 (4ª feira)

Monesterio – Fuente de Cantos - Puebla de Sancho Pérez – Zafra (41,6 km)

Daqui a Santiago de Compostela distam 831 quilómetros, esta etapa era a segunda maior da minha programação, daí que tenha saído de Monesterio ainda de noite com o Patrick, peregrino alemão, companheiro de quarto no albergue, tive que ligar o frontal, à nossa frente iam três pessoas, que fiz questão de tentar não perder de vista devido ao facto de estar avisado pelas conversas na net com o António do albergue de El Zaguan de la Plata em relação ao facto de ter de contornar o “arroyo Bodion” pela estrada e queria ter a certeza de que não seguiriam por lá.

O caminho em muitas partes estava completamente alagado, foi tentar sempre seguir por onde melhor desse, o Patrick decidiu parar e mandou-me prosseguir, deixei-o um pouco relutante, foi a ultima vez que me cruzei com ele, segui no encalce dos outros peregrinos da dianteira que alcancei sem nunca me juntar a eles, a determinado momento comecei a avistar Fuente de Cantos lá longe ainda distante, a 11 km.

Os companheiros da dianteira informam-me por gestos do desvio pela estrada, que martírio caminhar por estrada com a povoação á vista e a chover, ultrapassei-os mesmo á entrada da povoação, ficariam por ali, eu, bem, eu fui visitar o António do albergue Zaguan de la Plata, que me prestara ótimas informações e a quem fui agradecer pessoalmente a preciosa ajuda, deixando um galhardete de Nisa, carimbei a credencial e fui comprar comida que devorei no alpendre do que me pareceu ser o centro de saúde junto á igreja, por estar a chover com alguma intensidade, demorei mais um pouco, arrumei bem as coisas na mochila, ajustei o casaco, abri o guarda-chuva e segui viagem.

Tomei um caminho amplo de terra batida e plano com a estrada á vista pelo lado direito até chegar a Calzadilla de los Barros, que transpus sem parar seguindo as setas amarelas, muita água, lembrei-me do aviso do António para fugir ao rio Atarja, decidi não arriscar e segui de novo pela N-630, sem as amigas setas amarelas durante muitos quilómetros, a tendinite começou a incomodar-me, não hesito, tomo dois comprimidos para as dores e sigo, ao chegar a uma bomba de gasolina abandonada junto á estrada parou um carro que me elucida sobre a distância a ainda a percorrer e me diz que não estou no caminho certo, ignoro e mantenho-me alerta até atingir um cruzamento de estrada e confluência de um caminho em terra batida, fico ali na dúvida sobre o rumo a seguir, consulto o gps do telemóvel e vejo que a direção é a certa, para um carro com uma simpática senhora que me põe na rota correta rumo a Puebla de Sancho Pérez, tinha já andado mais alguns quilómetros e já com a povoação á vista caiu uma caqueirada de água que juntamente com o telefonema de casa me acompanharam até chegar ás imediações das primeiras casas, ao chegar vislumbro um café, o bar a perdiz e decido parar, tinha sido uma grande jornada, estava com uma fome de arromba, peço algo para comer, hora de la siesta diz-me o empregado, no hay nadica, solo unas tapas, olho e digo para me servir todas as que se encontravam na vitrine, peixe frito, salsichas, bacon, batatas fritas, que devorei num ápice juntamente com uma, não, duas cervejas e um belo café para rebater, foi uma das refeições que me deu mais prazer comer, até Zafra dizem-me são mais 4 km.

Meto a mochila as costas e faço-me à vida debaixo de mais uma chuvada até chegar à estação de comboio de Zafra que ultrapasso seguindo pela avenida, atingindo o recém aberto albergue da Associação dos Amigos do Caminho de Zafra, no nº 17, eram 16H30, onde fiquei soberbamente instalado e onde apenas havia três peregrinos, jantei no albergue juntamente com o Antonio Mateo e um ótimo pintor de cujo o nome já não me recordo  e que ofertou para o albergue alguns quadros por si pintados, após a tradicional compra de mantimentos, lavagem de roupa e arrumação da mochila, o António verificando o meu problema físico convidou-me a permanecer por ali mais um dia ou dois o que recusei amavelmente, escolhi a cama junto ao ponto de internet onde estive até altas horas a conviver com os amigos que ainda não tinha tido oportunidade de contactar, cansado larguei o computador , caí na cama e adormeci profundamente.

Desta etapa destaco o largo número de quilómetros que palmilhei por estrada devido ao facto de ter que evitar as inúmeras linhas de água. 







Texto e fotos: António Pimpão

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