sábado, 19 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 10
Dia 9 de Abril de 2013 (3ª feira)

a) Cañaveral – Grimaldo (8,2 km)
b) Grimaldo – Rio de Lobos (12,7 km) – Galisteo (9,5 km) Total (22,2 km)
c) Galisteo – Aldea de Jerte (5,9 km) – Carcaboso (5 km) Total (10,9 Km)  

07H05, saída de Canaveral, por estrada, falta de sinalética que nos confunde um pouco, mas mais à frente, depois de seguirmos a estrada pela esquerda encontramo-nos de novo com as nossas setas amarelas, uma subida dura e acentuada marca este inicio de etapa, cheguei ao hotel Puerto de los Castanos, passei ao lado de Grimaldo, sem parar e depois é abrir e fechar cancelas e seguir por extensas “fincas” de gado vacum, andei um par de horas sempre pelo meio do campo até à zona do polémico corte do caminho, devido a divergências com o proprietário da “finca” Larios e segui por Rio Lobos, uma extensa descida e subida, juntamente com as setas amarelas marcaram e muito bem o caminho até lá e depois por cerca de mais 8 km por estrada até Galisteo, foi neste trecho que encontrei quase à chegada a Galisteo surgidos do nada, aqueles que iriam ser doravante e por alguns momentos, os meus companheiros até Salamanca, quer dizer pelo menos um deles.

Em Galisteo parei com o trio de peregrinos e comi um belo e grande bocadillo de presunto e tomate e bebi uma grande caneca de cerveja com limão, que coisa boa, ainda fiz um compasso de espera a ver se os companheiros se decidiam a seguir viagem, mas pelos vistos não se decidiram e segui sozinho, contemplando o majestoso Castelo dirigi-me à ponte que me surgia no horizonte, atravessei e segui por estrada até Aldehuela del Jerte, recebi um telefonema do Sérgio que me deu noticias de Nisa e me pôs ao corrente da morte prematura de um camarada de armas, fui meditando naquela triste noticia e daí até ao final nem dei conta de ter feito o resto da etapa, onde cheguei eram precisamente 16h30. Não fiquei no albergue oficial, decidi-me pelo albergue da D. Helena, em quarto privado, por 14 euros.

Depois do banho e de comer alguma coisa, fiz as tarefas rotineiras da chegada, lavei roupa, fui fazer compras para a noite e para o dia seguinte, dado que voltei a não me sentir muito bem-disposto, fiquei-me por um chá e umas bolachitas vendo um jogo de futebol que estava a dar na tv, de realçar para além da presença dos três que encontrei de tarde, mais dois peregrinos, penso que alemães.
Reabasteci-me bem, dado que no dia seguinte não iria haver nenhuma povoação entre a partida e a chegada, a Dona Helena, figura mítica da Via de la Plata desenhou-me numa folha A4 um mapa de todo o percurso e por onde devia e não devia ir, simpática a velha senhora, como viria a constatar, só teria ganho se tivesse ter seguido os eus conselhos.

Ainda fiz um compasso de espera para não ir dormir muito cedo, dei uma volta pelas imediações e lá fui descansar, na nova jornada que se avizinhava, esperava-me um dos símbolos da via de la Plata, o Arco de Cáparra.









Texto e fotos: António Pimpão

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 9
Dia 8 de Abril de 2013 (2ª feira)

a) Cáceres – Embalse Alcântara (32,8 km)
b) Embalse Alcântara – Cañaveral (11,4 km)  

Depois do dia de ontem, confesso que para chegar a Salamanca no timing previsto, cumprir os meus planos para esta tirada seria crucial, queria primeiro que tudo chegar ao Embalse de Alcântara e depois ver se realmente tinha condições físicas e tempo para prosseguir até Cañaveral e foi com esse pensamento que iniciei pelas 06H40 a minha etapa, saindo de Cáceres em direção a Casar de Cáceres por estrada que só abandonei definitivamente já muito perto daquela povoação, cheguei duas horas e onze km depois. 

Parei num barzinho onde comi um churrito e bebi um belo café com leite, saí, parei um pouco à saída da povoação junto à Ermida de Santiago, meditei um pouco respirei fundo e segui por uma ampla pista de terra batida a perder de vista, lá longe sem que o soubesse vislumbrava já a muitos km o meu destino do dia, passei por um choço de pedra, os tais cubos em granito direccionavam-me correctamente por entre amplos campos povoados aqui e ali por manadas de vacas e alguns miliários ainda muito visíveis nesta fase do caminho, uma paisagem maravilhosa a perder de vista, andei muito bem, liguei a musica e caminhei, dancei, cantei, enfim mesmo sozinho consegui divertir-me abundantemente até chegará Finca Berrueto e à passagem das obras da estrada para a qual tive que ter uma atenção redobrada por ser uma zona um bocado confusa até se apanhar as marcas do outro lado, encontrei junto a uma área de merendas muito convidativa para parar, dois casais de peregrinos, um francês e um alemão, a quem me juntei a comer alguma coisa, eles saíram alguns momentos antes de mim, iriam ficar no albergue do embalse, segui junto ao casal francês, passei primeiro o rio Almonte e atravessei o Tejo, mandei cumprimentos através das suas águas para casa que iriam passar nos limites do meu concelho, Nisa, tinha que tomar a decisão ficava ou seguia? Decidi seguir até Cañaveral, sentia-me bem, muito bem mesmo, subi até a cota de 374 metros pelo percurso balizado que segue o Tejo e que nasce em Cedillo, depois de algum tempo a andar comecei a ter que atravessar mais algumas zonas de obras e pastos com vacas que tentei contornar sempre desconfiado, cheguei a Cañaveral, segui pela estrada principal e atingi o Hotel Málaga às 16 horas e pelas minhas contas depois de mais de 45 quilómetros palmilhados.

Estive a tomar duas cervejas com limão antes de subir ao quarto e tomar um banho que merecia depois da híper etapa que tinha feito, o dono do bar informou-me que de preços se falava depois, fiquei um bocado de pé atrás, mas na verdade as alternativas também não iriam ser muitas por ali, pedi-lhe um local onde lavar a roupa, mandou-me trazê-la para baixo que a lavava e enxugava, bom fui tomar o banhinho trouxe a roupita para lavar, saí para comprar algumas coisas de que necessitava com especial relevância para pilhas para a máquina e creme para os pés, para além das provisões habituais, ao lado um supermercado que bem me calhou não ter que ir para longe, paguei, saí e fui deixar as coisas no quarto e aproveitei para ver um pouco de tv e descansar, só descendo de novo por volta das 8 da noite para jantar, menu peregrino, jantei bem tentei conectar-me na net mas não consegui, fiz as contas no total, dormida, lavagem de roupa e jantar 36 euros, bom podia ter sido pior, mas mesmo assim, enfim!

Dei uma volta pelos subúrbios, regressei ao quarto, liguei a tv e adormeci assim, amanhã seria um novo dia e uma nova etapa.









Texto e fotos: António Pimpão

terça-feira, 15 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 8
Dia 7 de Abril de 2013 (domingo)

Alcuéscar - Cáceres (38,2 km) 

Saída matinal às 06H50, mais uma vez sozinho, comi algo já no exterior do albergue, não quis fazer barulho para não acordar o pessoal que ainda estava a descansar, segui andando, passei ao largo de Casas de Don António e Aldea del Cano, muitos amrcos miliários, muita coincidência com o caminho romano, a muita água nas vastas planícies por onde ocorre o Caminho fez-me tomar a opção de seguir pela estrada que o torneava, comecei a sentir-me indisposto e muito agoniado, os medicamentos tinham feito passar a tendinite, mas começavam a fazer mazelas no estômago, avancei passei pela ponte romana, agora os miliários apareciam quase do nada, estava mesmo na antiga via romana que coincidia com o caminho de Santiago e que estava devidamente sinalizada com os cubos em granito com as cores verde e amarela símbolo da coincidência dos caminhos, após mais um troço com frequentes subidas e descidas, que me levou até muito perto do aeródromo de La Cervera do aeroclube de Cáceres que para minha surpresa atravessei com uma avioneta a descolar na minha direção, brincadeira do piloto com toda a certeza. Após uns quatro km, atravessei a ponte medieval sobre o rio Salor, atingindo assim Valdesalor, ultima povoação antes da chegada a Cáceres, continuei acompanhado de um peregrino francês que aí encontrei chegado pela estrada que me disse que não caminhava mais em caminhos repletos de água desde que a estrada fosse visível, comemos algo no bar, ele saiu muito apressado uns cinco minutos antes de mim, pagando-me a bebida sem que tivesse dado conta, quando acabei e regressei ao caminho vislumbrei já muito longe a sua silhueta que seguia pela estrada, nunca mais o vi, coisa estranha!

Segui junto à N-630 pelo caminho tendo as setas amarelas como referencia, por um troço esquisito e meio duro, com pedras soltas e sempre a subir ao lado da estrada até atingir o alto a quase a 500 metros de altitude, de onde se vislumbrava Cáceres, mas que, como vim depois a descobrir, ainda ficava a alguns km de distância, cruzei pela ultima vez a N-630 e desci por um descampado imenso em direção ao meu destino, chegado a Cáceres dirigi-me à Plaza Mayor, sentei-me nuns degraus a contemplar e a procurar o caminho a seguir na jornada seguinte, estava esgotado fisicamente, sentia-me de rastos, um velhote fez-me companhia e deu-me uns minutos de conversa, a vontade era pouca e segui até à pensão Cesar na Calle Margalho, eram 16 horas.

A vontade era mesmo muito pouca, não lavei roupa, estava num quarto com tv, limitei-me a tomar banho, sair para ver a direcção a seguir na manhã seguinte e comprar algo para jantar e para a próxima etapa, que iria seria comprida e sem qualquer ponto de apoio intermédio, depois deste reconhecimento regressei ao quarto e a verdade é que ingeri um iogurte liquido, arrumei as coisas, deitei-me debaixo dos cobertores para ver um pouco de tv e adormeci profundamente, acordando só já de madrugada.

Constatei na pele o provérbio de que se não morrer do mal morro da cura…










Texto e fotos: António Pimpão

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 7
Dia 6 de Abril de 2013 (sábado)

Mérida – Alcuéscar (36,4 km) 

Saí de Mérida pelas 08 da manhã pela ponte romana do Arroyo Albarregas com vista para o aqueduto com as cegonhas e com o nascer do sol a despontar deu uma imagem espetacular. Prossegui guiando-me pelas flechas amarelas e seguindo por uma ciclovia até á barragem romana de Proserpina, o que fiz num ápice, parei para apreciar a construção e tirar algumas fotos, contornei a barragem e após um pequeno engano prontamente desfeito por uns pescadores matinais, tomando á esquerda uma pequena estrada alcatroada, um par de km depois sai-se da estrada sempre por caminhos abrindo e fechando cancelas cheguei a El Carrascalejo, que possui uma igreja do século XIV e que transpus sem parar, até chegar a um túnel por baixo da auto-estrada por onde passei e após uma ligeira subida atingi um cruzeiro, donde se avista Aljucén, local onde parei num café junto á igreja e tomei um retemperador bocadillho com uma Coca-Cola, para o final da etapa faltavam ainda cerca de vinte quilómetros…

Segui por estrada até ultrapassar o rio Aljucén para pouco tempo depois, á direita entrar num caminho de terra batida em pleno parque natural de Cornalvo y sierra Berneja, pela via pecuária e que me iria levar até muito perto do final, sem que antes tivesse que atravessar mais um arroyo de botita ás costas e encontrado pessoal que deveria andar a procura de cogumelos, troço do qual gostei especialmente, atingido que foi mais um cruzeiro e após o encontro com um peregrino que aproveitou a fresca erva para fazer uma siesta atingi mais um cruzeiro para pouco depois de deixar o caminho de terra, fazer os últimos metros por estrada até a povoação de Alcuescar, destino final da etap com pernoita no Albergue de Peregrinos Casa de la Misericordia de Alcuescar, com jantar incluído e funcionando por donativo, cheguei eram 16H30 e após o registo e banho retemperador e as tarefas do costume saí para mais umas compritas, quando regressei reencontrei uma peregrina com quem tinha estado em Mérida e que me disse que por pouco não me tinha apanhado em Aljucen, dado que o dono do café lhe tinha dito que eu tinha acabado de sair e teve que fazer sozinha toda a etapa.

Após o jantar que de bebida apenas tinha água, convidei-a e a um dos hospitaleiros a tomar comigo um cafezinho no bar ao lado e após alguma conversa ele diz-me que já anda nestas andanças desde 1968 e pela conversa deduzo que conhece todos os sítios de que lhe falo, bela conversa essa com quem vive tão intensamente este caminho e que por aqui se mantém há já uns anos fazendo trabalho voluntário a troco de comida e teto para dormir, foi das conversas mais enriquecedoras deste meu caminho e deduzo mais uma vez que é preciso tão pouco para se ser feliz.


A registar as tréguas dadas pela tendinite e o encontro com pessoas cujas partilhas de experiências de vida torna a nossa existência tão plena.







Texto e fotos: António Pimpão

domingo, 13 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 6
Dia 5 de Abril de 2013 (6ª feira)

-Almendralejo - Torremejía – Mérida (30,4 km)

Saí às 08H10 da manhã, apanhando logo o desvio pela Estrada de Alange, 3,5 kms depois entrei na pista para a Via de la Plata, que tinha largado de véspera para chegar a Almendralejo, 3 horas de caminho entre vinhas e sobre a antiga calçada romana, uma linha reta interminável que atinge o seu fim com muito barro no final para variar e a chegada a Torremejia pelas 11H10 sem que mais uma vez tivesse visto vivalma no caminho.

A localidade está dividida pela N-630, procurei um supermercado para comprar algo para comer e para o caminho, sentei-me num banco da Praça e desfrutei por momentos da calma que me rodeava, aproveitando para descansar um pouco, antes de me meter ao caminho de novo.

Saí, seguindo as setas, por um caminho ao lado da estrada que abandonei por estar completamente repleto de água e decidi andar ao longo da estrada mantendo assim os pés secos, um par de km depois, reparo em alguém que me precede umas centenas de metros e decido abrandar o passo, farto de andar sozinho estava eu e agradava-me ter um pouco de companhia.

Tratava-se de um jovem peregrino alemão que andava a bom ritmo, seguimos juntos, depois de alguns km sempre com a estrada á vista, passámos uma linha de caminho-de-ferro e seguimos pelo troço antigo da estrada e continuamos por um caminho mais largo, até atingir as imediações do meu destino e entrarmos na ponte romana, porta de entrada do caminho, o peregrino alemão decidiu seguir, eu iria como planeado, ficar por Mérida, segui já sozinho pela ponte romana sobre o Guadiana, com a ponte Lusitana do lado esquerdo até atingir do outro lado a estátua da loba que amamentou Rómulo e Remo, virando à esquerda pelo passeio de Roma até atingirmos na margem do rio, o Albergue del Pan Caliente, onde cheguei pelas 15H35, ás voltas com a minha tendinite…

Aproveitei para depois do banho fazer aquelas tarefas rotineiras e pôr a roupa a enxugar, fui ás compras, visitei o centro de interpretação e as ruínas existentes por baixo do edifício onde funciona o governo em Mérida.

Para além do reencontro com o amigo pintor do albergue de Zafra de há dois dias atrás e com quem tive o prazer de jantar, dado que encerrava por aqui o seu caminho, há a registar uma confusão no albergue com um rapaz toxicodependente, que aproveitou a ausência da hospitaleira para se ir instalando, tomar banho, comer todos os restos de comida que havia na cozinha e começar a ofender todos quantos estavam no albergue com especial incidência as senhoras, claro que tive que intervir dado que ninguém o fazia e encorajá-lo a sair amigavelmente, o que fez um pouco contrariado, a situação resolveu-se com a chegada da hospitaleira e da policia, não sem que antes se tenha divertido a destruir o livro de comentários existente no Albergue para o efeito.

Cheguei depois de jantar e fui directo para a cama dormi que nem um anjo até ao dia seguinte.






Texto e fotos: António Pimpão