Dei inicio à jornada às 06h50 da manhã! Em solitário, dei os primeiros passos desde o albergue em direção às 2 placas que informam os peregrinos sobre a bifurcação com o Caminho Sanabrês, ou seja, quem pretenda continuar pela Via da Prata segue em direção a Astorga e quem quer optar pelo Caminho Sanabrês seguirá na direção de Puebla de Sanabria e de Ourense! A sinalética é muito clara, sem qualquer possibilidade de duvida ou de engano e encontra-se localizada na frontaria da igreja de Granja de Moreruela (foto 1) e na parte de trás do referido templo (foto 2)! Depois de passado o desvio para o Mosteiro de S. Maria de Moreruela, avistei os primeiros peregrinos da manhã, precisamente aqueles que tinha saído mais cedo do albergue. Cumprimentei a Zelinda, a peregrina italiana de Brescia e recordei inevitavelmente o episódio da véspera! Continuei na minha passada à medida que ía passando por outros peregrinos e desejando-lhes Bom Caminho! No caminho descendente de acesso à estrada que conduzia à ponte Quintos (foto 5) passaram por mim os 2 bicigrinos italianos que comigo na véspera tinham partilhado a mesa do jantar! Um deles saudou-me de forma efusiva com um "viva Portugal!" e eu respondi "viva Itália!".
Depois de atravessar a bonita ponte Quintos, o Caminho de Santiago ocorre por um magnífico e tranquilo trilho de pé posto ao lado do rio Esla. Este trilho culmina num miradouro altaneiro sobre uma espécie de Portas de Ródão lá do sitio (foto 7). Elegi de imediato este troço como o mais bonito desde Zamora! Parei por breves momentos antes da enorme reta que conduzia a Faramontanos de Tábara. Nesta localidade parei, às 11h00, para comer, descansar e carimbar a credencial! Às 12h57 cheguei à igreja de Santa Maria em Tábara! Carimbei a credencial e pedi informações sobre a localização do albergue, que ficava mesmo na saída da localidade! À saída da igreja tive uma agradável surpresa: reencontrei o meu companheiro que deixara em Riego del Camino por causa das dores no pé direito! Contou-me que, após aconselhamento médico, decidiu vir de transporte até Tábara, descansar 1 dia para retomar o Caminho em melhores condições físicas! No caminho para o albergue comprou um bastão articulado num pequeno mercado que havia em Tábara! Despedi-mo-nos com um "até já", contudo, não voltei a reencontra-lo! Enquanto caminhava para o albergue saciei a sede, refresquei-me numa fonte de água fresquíssima e enchi as minhas garrafas. À chegada ao albergue e num primeiro contacto com o hospitaleiro, de seu nome Almeida, percebi de imediato que ali se "respirava" o espirito do Caminho! Cama, jantar comunitário, roupa lavada e pequeno-almoço = donativo! Após o banho notei que tinha agora, na planta de cada pé, uma espécie de bolha! Restava-me continuar a proteger ambos os locais! A farmácia de Tábara estava fechada, mas ainda tinha no meu kit de primeiros socorros alguns pensos de silicone.
Após as compras da praxe passei por 1 ou 2 bares de Tábara para umas canecas de "canha" (a 1 euro cada, fiquei admirado por ser tão barato, creio nunca ter pago tão barato em outros Caminhos...)! Às 20h00 foi servido, com a colaboração de todos os peregrinos presentes, o jantar comunitário, confecionado pelo admirável hospitaleiro Almeida! A ementa foi composta por sopa, arroz à zamorana com morcela, fruta e um xupito caseiro! Creio que no total deveríamos ser uns 12 peregrinos, reconheci alguns, o alemão Stefan, os franceses Patric, Ives e Cristiane, a italiana Zelinda, a alemã Sophie e seu companheiro Abdulah, depois estava um casal de peregrinos que pareceram ser norte americanos e um outro casal de bicigrinos franceses! Enquanto decorreu a tranquila "cena" comunitária partilhámos algumas vivências do Caminho! O Almeida disse-nos que decidiu tornar-se hospitaleiro em casa própria por achar que o Caminho estava a começar a perder muito do seu espirito genuíno e a entrar por uma vertente muito de negócio e de dinheiro (como estás certo amigo Almeida!). No final do repasto ofereceu-nos um medalhão em madeira com os dizeres "Ultreia Tábara" e com a seta amarela (foto 10), e cada um retirou de uma caixa, um cartão com uma passagem alusiva ao Caminho (todas da autoria do Almeida) que cada um teria que ler para todos! Deixo-vos com a passagem que a mim me calhou em sorte:
"Si te decides a dejar el
lastre que llevas encima,
podrás caminar com más
agilidad."
(Almeida)
Trad. "Se te decides a deixar o
peso que levas em cima,
poderás caminhar com mais
agilidade."
(Almeida)
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