quinta-feira, 25 de junho de 2015

Caminho Sanabrês: 29-05 (2ª Etapa, Montamarta-Granja de Moreruela, 22,6 km)

 
 
 
 
 
A alvorada foi às 06h00. O 1º peregrino que se levantou funcionou como despertador para os restantes! Entre higiene matinal, arrumar a mochila e pequeno-almoço, o reinicio do Caminho ocorreu pelas 07h10! A parte inicial da etapa fi-la na companhia de um simpático peregrino que me pareceu ser espanhol, mas que falava muito bem alemão (nunca tive oportunidade para lhe perguntar mais pormenores...), baixámos a Montamarta pela N-630 para entrarmos no Caminho na Plaza Mayor. Percebemos de imediato que estávamos no trajeto certo ao olharmos para um marco da Via da Prata! Ao sair da povoação tomámos a direção da Ermida de S. Maria del Castillo, cruzando um braço do Embalse de Ricobayo que, felizmente, nos deu passagem por se encontrar com menos água nesta altura do ano. 4 km depois de Montamarta e um pouco antes das ruínas de Castrotorafe, surgiu o primeiro contratempo muito por culpa da confusa sinalização do desvio ao Caminho, em virtude das obras da Autovia de la Plata! Entre o ir para a frente e voltar para trás, creio que devemos ter feito mais 2 km em relação ao total da etapa. A sinalização não é clara e cria duvidas constantes nos peregrinos, contudo, mais tarde viemos a saber que poderíamos ter continuado em frente sem necessidade de retomar o caminho anterior, só que, na duvida, manda o bom senso retornar à última seta/marco! 
 
Já junto às ruínas de Castrotorafe cruzei-me com mais alguns peregrinos alemães e franceses, parei para tirar fotos e para esperar pelo meu companheiro que vinha com dores num pé, que se estavam a agravar! Mesmo em estado de degradação, dava para perceber que esta antiga cidade medieval fortificada teria sido imponente noutros tempos! Foi habitada entre os séculos XII e XVIII, sendo Castrotorafe conhecida pelo nome de "Zamora-a-Velha". Em Riego del Camino, a 6,5 km de Granja de Moreruela, parámos num bar para retemperar forças! O meu companheiro de jornada decidiu ficar por ali e procurar um médico por causa das fortes dores no pé, suspeitava que fosse uma tendinite! Continuei em solitário até Granja e só na entrada desta povoação me voltei a cruzar com um casal de peregrinos da Europa do Norte (não consegui identificar de que país...). Às 13h50 fiz o registo no albergue, efetuado no bar Teleclub (5 euros). Após o banho percebi com grande espanto meu, que tinha uma principio de bolha na planta do pé esquerdo! Fiquei bastante surpreso, pois há muitos anos que não fazia uma! Posto isto havia que tomar precauções e proteger o local afetado!
 
Destas primeiras 2 etapas ainda na Via da Prata, fica o registo dos imensos e intermináveis estradões de terra batida em linha reta, pelo que, tirando os monumentos em Zamora e as ruínas de Castrotorafe, nada mais digno de registo! Enquanto descansava no albergue recebi um telefonema do meu amigo Leonel Gomes e do meu cunhado António Delfino, para saberem novidades e desejarem continuação de Bom Caminho! Durante a tarde tempo ainda para fazer compras, lavar e secar roupa, carregar a pilha da minha lanterna e uma ida até ao bar Teleclub para umas "canhas" retemperadoras! Nota de registo para o aumento de peregrinos muito por força de Granja de Moreruela ser o ponto de confluência com o Caminho Sanabrês! (o albergue acabou por encher, motivando algumas cenas desagradáveis como contarei mais adiante...) Jantei no bar teleclub, na companhia de 2 simpáticos bicigrinos italianos, menu por 9 euros! Estava com muito mais apetite do que na véspera, daí que tivesse comido tudo sem hesitações!
 
Como mais acima já adiantei, depois do jantar e quando recolhíamos ao albergue ocorreu uma daquelas cenas sempre desagradáveis e perfeitamente evitáveis, ou seja e como disse anteriormente, o albergue acabou por encher, muito por força de um grupo de peregrinos que chegou mais tarde vindos de Zamora e já com muitos kms nesse dia! Uma das peregrinas desse grupo, italiana de Brescia, de seu nome Zelinda (e que viria a tornar-se numa das melhores amizades que fiz neste Caminho....), não foi ao bar Teleclub registar-se para o albergue e, supostamente, terá ocultado essa situação à hospitaleira! Conclusão, estava a dormir no solo sem, beliche! A hospitaleira apercebeu-se da situação e travou-se de razões  com esta peregrina! Foi o granel geral! Todos ficámos com a nítida sensação de que a hospitaleira, pese embora a razão estivesse do seu lado, se excedeu nos modos como se dirigiu à peregrina italiana! Quem é sensível ao Caminho e ao dia-a-dia do peregrino, deveria ter tido o "encaixe de cintura" suficiente para compreender, que uma peregrina que já vinha de Sevilha e que naquela jornada tinha andando mais de 40 km, ao ser confrontada com a situação de um albergue completo, já não teria forças mentais nem físicas para ter que continuar a procurar alojamento alternativo (até pelo adiantar da hora...), infelizmente esta hospitaleira não teve o bom senso necessário! Reafirmo que a peregrina também deveria ter dito a verdade, mas acredito (e acreditaram os demais peregrinos presentes...) que o fez sem qualquer intenção, apenas e tão são, porque, pelos motivos já relatados, não tinha condições para discernir mais claramente! Bom...no fim de toda esta discussão e depois de muita "negociação" mediada por alguns dos peregrinos presentes, a dita hospitaleira lá cedeu e permitiu que a peregrina italiana ficasse no albergue, bem como um outro casal de peregrinos para quem também já não haveria lugar nos beliches! Ânimos mais calmos, foi tudo dormir, pois o Caminho continuava ao romper da aurora!


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