sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Diário do Caminho: II Parte, O Caminho de Fisterra





























29º Dia, 17 de Maio, Olveiroa – Fisterra

Uma vez mais voltámos a sair bastante cedo, às 06h40, após a rapaziada ter tomado o pequeno-almoço num bar em Olveiroa que abriu mais cedo. Nas proximidades de Cee avistámos finalmente o mar e a costa galega, também conhecida por costa da morte! Uma paisagem deslumbrante a merecer as primeiras fotografias do dia! Parámos em Cee num bar com vista para a água para descansar, contemplar a paisagem envolvente e comer alguma coisa. Muitas gaivotas, muito mar e uma temperatura muito boa, muito primaveril, já com um cheirinho a verão! A pouco e pouco começávamos a esquecer o mau tempo que, durante muitos dias, nos tinha dificultado um pouco a nossa travessia! Felizmente já era passado! Já no concelho de Fisterra, para lá da praia do Sardiñero, cumpri a promessa que tinha feito a mim mesmo, logo no início do Caminho: mergulhar no mar de Fisterra! E foi precisamente na praia da Langosteira que o fiz! O Delfino optou apenas por molhar os pés, uma vez que andava um pouco engripado. Eu não tive pelos ajustes e mergulhei mesmo! A água ainda estava um pouco fria, mas soube muito bem! Todos merecíamos por inteiro este banho de pureza no mar da costa da Galiza! Tínhamos caminhado muito para ali chegar! Era o nosso prémio! Havia que desfrutar! Purifiquei o corpo e o espírito e acima de tudo, purificámos e refrescámos os nossos pés, estes sim, bem mereciam esta pequena mordomia pela enorme e árdua tarefa que há muitos dias enfrentavam! Guardei uma concha como recordação desta praia e, acima de tudo, como recordação deste momento! Lá cumprimos a curta distância que separava a praia da Langosteira de Fisterra, onde chegámos pelas 15h00, com mais 34,2 km para o currículo! Dirigimo-nos de imediato ao albergue municipal, que já estava completo (para variar…), carimbámos a credencial e pedimos a merecida Finisterrana! Ficámos no hotel Âncora por 12,5 euros cada um, um preço excelente tendo em conta as muito boas instalações de que dispunha! Após o habitual ritual pós-caminhada, demos um passeio de reconhecimento por Fisterra, uma povoação muito acolhedora e muito bonita! Demos uma volta pela marginal e bebemos umas canhas no bar “Lara” na praça perto do porto de Fisterra. Aproveitei para escrever um postal para a Graça e para as miúdas! Antes que me esqueça no dia de hoje é feriado por toda a Galiza, tem a ver com umas festividades que por aqui se assinalam nesta altura. Às 20h00 jantámos no restaurante do hotel, uma valente e mais que merecida mariscada com todo o marisco que possam imaginar: 2 enormes travessas repletas de iguarias de “frutos do mar” e uma terceira travessa só com sapateiras! Se a tudo isto juntarmos um espantoso e fresquíssimo vinho Alvarinho, imaginem que menu dos Deuses, nos foi servido à mesa! Em termos de custo, só vos digo que já paguei mais por muito menos em Portugal! Concluído o repasto divinal, aproveitámos e agradecemos a disponibilidade do patrão do hotel em nos levar até ao Farol, no Cabo Fisterra, pois distava cerca de 3,5 km do hotel. Faríamos a pé o caminho de regresso! Apressámo-nos para chegar antes do sol se esconder. Não há palavras suficientes no vocabulário português (nem em qualquer outro vocabulário…) que possam descrever o espectáculo que nos estava reservado naquele mítico lugar, onde a terra acabava e o mar começava! O por do sol mais ocidental da Europa, o por do sol que tantas vezes tinha visto de tão longe, tinha-o agora ali à minha mercê e a “escassa” distância”, o por do sol mais bonito que alguma vez tinha assistido em toda a minha vida! Acendemos a tradicional fogueira da purificação, o ritual que todos os que ali chegavam, fazendo o Caminho de Santiago, necessariamente teriam que cumprir! Cada um queimou a sua peça de roupa, pela minha parte queimei a esponja do banho e um par de meias anti-fungos! Só não brindámos por 2 razões: porque já tínhamos brindado imenso com Alvarinho e porque também o bar do Farol (estranhamente…) já estava fechado! No meio de tanta emoção não resisti em ligar para casa a fim de partilhar este momento com a Graça e com as miúdas, o Alexandre também estava muito feliz e quis, por isso, também transmiti-lo à Graça! É difícil dizer qual de nós estava mais radiante, cada um à sua maneira, era no fundo o resultado de 29 dias muito intensos! Muitas fotografias se tiraram: ao melhor por do sol do mundo foram várias, outras tantas ao fim da terra e ao princípio do mar, algumas também à fogueira e outra ainda a pedido do Alexandre, que aqui não pode ser divulgada, ficando penas e tão só para “nosotros”! Para que se cumprisse o ritual, faltava ainda a passagem e registo fotográfico junto ao marco do km 0 do Caminho e foi o que fizemos! Já com a escuridão da noite instalada, iniciámos o caminho de regresso a Fisterra, pouco mais de 30 minutos para percorrer os 3,5 km até à dita povoação. Ficava-nos a faltar a derradeira etapa que, como o Pimpão teve oportunidade de referir algures já nesta II parte do Caminho, “como já não temos mais terra para andar para ocidente, teremos que andar para norte…” em direcção a Múxia! Por volta das 24h00 recolhemos aos quartos do hotel, eu, o Delfino e o Pimpão, porque o Castro e o Alexandre ainda foram a um bar acabar de digerir todo aquele mar de emoções!

Texto: Sérgio Cebola
Fotos: António Delfino e António Pimpão

1 – Fisterra/Múxia: onde o Caminho se divide
2 – O Delfino já com a costa à vista, perto de Cee
3 – E finalmente o mar!
4 – Cee lá ao fundo!
5 – A Capelinha da Imaculada Conceição (na descida para Cee)
6,7 - Cee
8– E Fisterra tão perto!
9– O mergulho prometido na praia da Langosteira
10 – O “molha pés” do Delfino
11, 12 – A praia da Langosteira
13 – O Delfino já perto de Fisterra
14 – Fisterra
15 – O porto de Fisterra
16, 17 – A mariscada no restaurante do hotel Âncora!
18 a 22 – O por do sol do outro mundo no Farol do Cabo Fisterra!
23 a 25 – A tradicional fogueira
26 a 29 – O marco do km 0 do Caminho!

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