sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Diário do Caminho: 15º Dia, 3 de Maio, Bercianos del Real Camino – Puente Villarente











Às 06h45, ainda o sol não tinha nascido e já nós estávamos de novo no Caminho, desta feita à “conquista” de Puente Villarente. Deixou de estar fresco para começar a estar frio e ainda por cima com muito vento! Tanto foi que tive que meter o passa-montanhas e as luvas! Efectuámos uma breve paragem em Manzilla de las Mulas para “desayunar” bocadillos de tortilla e de queijo com presunto, devidamente acompanhados com o inevitável vinho tinto! O percurso foi muito monótono, sempre com a mesma paisagem, sem grandes pontos de interesse, com a agravante de ser quase sempre perpendicular à estrada. Excepção à regra foi a bonita ponte sobre o rio Porma, na entrada de Puente Villarente, ainda assim a necessitar de urgentes trabalhos de beneficiação. A este respeito o nosso guia assinalava mesmo travessia de “ponte perigosa”! Foi também o dia em que eu e o Delfino terminámos mais cedo a jornada: às 14h28! Ainda por cima numa das etapas mais longas: 33 km! O tempo fresco (e frio…), a etapa plana e o facto de só termos feito uma paragem justificam esta nossa chegada mais cedo do que o habitual. Ficámos muito bem instalados no melhor albergue de todos até a esta etapa: o San Pelayo! Por cerca de 20 € cada um, tivemos direito a dormida, banho, jantar, lavar e secar roupa e pequeno-almoço! Muito bom, de fazer inveja a muitos hotéis! Dispunha de umas instalações muito acolhedoras, com lareira acesa (que bem se agradecia, tal era o frio…), cozinha à nossa disposição e internet! Ficámos num quarto que só tinha mais uma pessoa para além do nosso grupo, um irlandês ou inglês (não estou bem certo), já entradote, que tínhamos encontrado uma ou duas vezes, penso que a partir de Calzadilla de la Cueza, e a quem o Alexandre simpaticamente apelidava de “Mr. Jones”! O Javi e o António (de Lugo) devem ter ficado num albergue antes de Puente Villarente! O Alexandre e o Luís continuavam connosco. Hoje lembrei-me do Hernâni, o outro companheiro brasileiro que deixámos em Viana! Espero que esteja tudo a correr bem com ele! A hospitaleira do albergue era muito simpática, disse-nos que já tinha sido emigrante em França, isto a propósito de lhe termos dito que tínhamos começado o Caminho em Saint-Jean-Pied-de-Port e do Delfino lhe ter dito também que era emigrante em Joué-les-Tours. Disse-nos que o tempo em Espanha andava “muy loco” e que estava a nevar a 40 km de Puente Villarente! Escusado ser dizer que, perante estas informações, começamos logo imaginar e conjecturar cenários futuros, ou seja, as etapas de montanha que se avizinhavam, Foncebadón e o Cebreiro, a 1440 e 1300 metros de altitude, respectivamente! Começamos logo a fazer figas para que o tempo estivesse melhor nessa altura! Após 15 dias no Caminho e pese embora algumas mazelas decorrentes da realização do mesmo, o pessoal estava muito confiante e animado! Faltavam 323, 7 km para Santiago! Após (mais um…) repasto muito bem composto, fomos até à acolhedora lareira na cozinha do albergue. Lá tinha jantado 2 peregrinas, penso que alemãs, que nos ofereceram ananás de sobremesa e vinho tinto! O Alexandre fez logo as honras da casa agradecendo a simpatia das senhoras! Entre a lareira e a internet ocupámos o tempo até à hora de dormir! Nunca o ditado “deitar cedo e cedo erguer…” fez tanto sentido como no Caminho de Santiago!
Texto: Sérgio Cebola

Fotos: 1, 9 e 10 (António Pimpão), fotos 2 a 8 (António Delfino)
1 – Mais um nascer do sol inesquecível (na saída de Bercianos…)
2, 3 – A caminho de Manzilla de las Mulas, com um vento muito frio
4 – Entre Manzilla e Puente Villarente
5 – Puente Villarente (sobre o rio Porma)
6 – À entrada da localidade de Puente Villarente
7, 8 – À lareira do albergue San Pelayo
9 – O jantar no albergue
10 – O Alexandre com as 2 peregrinas alemãs (agradecendo a oferta da sobremesa)

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