Lembro-me que fui o último peregrino a deixar o albergue! Eram 06h38 da manhã quando empreendi a maior etapa do Caminho Sanabrês: 36,6 km! Defini previamente 3 pausas para melhor gestão do esforço! Cerca de 1 km antes de Calzadilla de Tera e 10 km depois de Santa Marta de Tera, o Caminho ocorre junto a um bonito canal de rega tornando o percurso bastante aprazível (foto 4)! Às 09h30 realizei a 1ª das 3 pausas, em Olleros de Tera, na esplanada de um bar que se situava ligeiramente fora do Caminho! Pedi o habitual Aquarius com gelo e limão e acompanhei com pão, queijo e chouriço que trazia na mochila, finalizei com fruta fresca! Decidi, em virtude das temperaturas um pouco mais altas, que durante a caminhada não iria beber bebidas alcoólicas, apenas depois da jornada diária de Caminho! Isto porque o calor + bebida alcoólica + esforço = aceleração da desidratação! O Aquarius seria sempre uma escolha sensata, por ser uma bebida isotónica!
Voltando ao Caminho, cruzei-me com os já habituais peregrinos e passei por outros que não conhecia, situação que vinha reforçando aquela ideia "lugar comum" que quanto mais perto de Santiago, mais peregrinos! Depois de Olleros de Tera destaque para a passagem pelo Santuário e Embalse de Agavanzal! No caminho de acesso à barragem, está sinalizado um atalho alternativo para os peregrinos, sendo que os bicigrinos continuam pelo caminho convencional! Trata-se de um trilho de pé posto que culmina numa zona de bosque junto a uma linha de água (foto 5)! Foi precisamente aqui que reencontrei a Zelinda! Estava parada, a fotografar o local! Disse-me, gracejando, que já sabia que era eu, porque conseguia perceber que era a minha passada! Seguimos juntos pelo bonito trilho que entra na estrada já muito perto da barragem! Um pouco antes de cruzarmos o paredão do enorme embalse, surgiram, pela nossa, esquerda, a Sophie e o Abdulah, não tinham seguido pelo atalho, o que veio comprovar que este era mais curto do que o caminho principal! Cruzámos o paredão os 4, entre algumas fotos e amena cavaqueira! O Caminho prossegue por uma estrada secundária sempre junto à água, durante muito tempo, comprovando, de facto, a considerável dimensão da barragem! Em determinada altura o Abdulah começou a ver peixes perto da margem e tentou apanhar alguns, desprevenidos, dizendo-nos que era habitual pescar assim em Marrocos!
Assim continuámos juntos até Vilar de Farfón, onde parámos cerca das 11h30 num pequeno refúgio na saída da aldeia! Fomos acolhidos pela simpática hospitaleira, creio que era emigrante holandesa! Podíamos beber e comer algo, por donativo! Comi fruta que trazia na mochila e bebi água fresca! Descansámos! Carimbámos a credencial, enquanto a hospitaleira nos contou a sua história por aquelas bandas! A Zelinda disse-me para provar os biscoitos que eram muito bons! Acedi e de facto era saborosos! Àquela hora e já com os km que tínhamos percorrido qualquer coisa era boa para o aconchego do estomago e da alma! Com a energia e a motivação renovadas retomámos o Caminho! Umas vezes juntos, outras separados lá continuamos até Rio Negro del Puente! Eram 13h10, parámos junto ao albergue e, entretanto chegou a francesa Cristiane! Confidenciou-nos que a tendinite numa das pernas estava a complicar-lhe a marcha e que decidira encurtar as etapas a pé, fazendo alguns km de autocarro! A Zelinda aproveitou para dar uma espreitadela ao albergue que, segundo nos disse, era muito bom! Eu aproveitei para comer frutos secos, beber água e levantar um pouco os pés e as pernas! No fundo ganhar ânimo e recarregar baterias para os derradeiros 9 km até Mombuey! A maior parte do percurso ocorre por caminho paralelo à Estrada Nacional, um troço bastante descampado, tipo pradaria!
Entrei em Mombuey às 15h28, com os meus companheiros de jornada ligeiramente mais atrás! Um albergue muito modesto, creio que o mais modesto de todos até ali, de donativo e sem condições para fazer comida nem para lavar roupa! Após o já rotineiro e habitual ritual pós-chegada ao albergue, fui comprar comida&bebida, entrei numa farmácia para comprar uma seringa, pois necessitava de tratar as bolhas! Bebi uma canha num dos bares mais centrais! Durante a tarde combinámos o jantar, eu, a Zelinda, a Cristiane e o Ives! Tinham-nos indicado o único restaurante que servia menu, lamentavelmente estava fechado em virtude da doença de uma pessoa de família! A única hipótese seria o restaurante La Ruta (pelo qual já havíamos passado, à entrada de Mombuey)! Decidimos de imediato que não iriamos a pé, já chegava de caminhada naquele dia! Eu e a Cristiane partilhámos o preço do táxi! O Ives convidou-nos para uma bebida já no La Ruta, enquanto o jantar não era servido! Pagámos 11 euros, mas valeu a pena porque foi uma "cena" muito bem composta! Mas mais importante ainda, desfrutámos, confraternizámos e pusemos a conversa em dia deambulando pelas peripécias do Caminho!
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