No inicio, a minha motivação para o Caminho foi o gosto por caminhar, por
acompanhar amigos, por medir os meus próprios limites, para ganhar a experiência de
uma caminhada de vários dias seguidos e a curiosidade por um Caminho carregado
de história.
Depois…
há os aspectos inexplicáveis do chamamento e da minha motivação! A única certeza
era de que o Caminho devia ser feito de novo, não só por impulso religioso, mas
também por forte necessidade de fortalecimento espiritual, de busca de paz
interior e de momentos de introspecção intensos, que só em locais como Santiago
ou Fátima eu encontro.
Porém,
na verdade, essa plenitude não se encontra e se esgota na Catedral de Santiago,
mas sim na forma como se faz o Caminho até este templo, na fé, na reflexão e
maneira como meditamos sobre a vida, na abertura e relacionamento
intercultural, na forma de ultrapassar a barreira linguística, na solidariedade,
entreajuda, companheirismo e apoio aos outros e a nós próprios, nas novas
experiências, na rotina dos albergues, na importância dada à simplicidade e na descoberta
de coisas e sítios novos, na aventura, na forma de ultrapassar os vários
obstáculos que se nos deparam, no desapego por coisas supérfluas, na demanda
por novidades, no sossego, na calma, na paz, na alegria da superação de
obstáculos, na sensibilidade e contemplação do património edificado, religioso,
natural, humano, no conhecer dos limites físicos e psicológicos, nas privações
a que estamos sujeitos, na descoberta do passado através de narrações,
histórias, lendas, na religiosidade, misticismo, tradições, costumes, gastronomia,
na liberdade e autonomia com que enfrentamos o Caminho e sobretudo no facto de nele
estarmos todos em pé de igualdade, independentemente da nossa raça, religião ou
estatuto social dado que ali somos simplesmente peregrinos e donos do nosso Caminho,
seja ele qual for…!
Desta
vez irei sozinho, só através da experimentação poderei concluir qual a melhor
forma de peregrinar, se em grupo ou a solo, espero que esta experiência me dê
também essa resposta e quem sabe no futuro possa dizer que no fundo o que
interessa é traçar metas e atingi-las e que tudo o resto são pormenores.
Além
disso, busco incessantemente no Caminho, um sentido para a vida, busco um
encontro comigo mesmo no intuito de encontrar respostas que normalmente não
consigo vislumbrar no dia-a-dia, busco a beleza das pessoas, paisagens e
lugares inconfundíveis, carregados de lendas, histórias e tradições, busco a forma
de manter a minha saúde física e mental, busco os sabores e odores do Caminho,
busco o derrubar de barreiras culturais e linguísticas, busco e procuro novas
amizades, busco por vezes o isolamento, busco o desafio de vencer barreiras e a
emoção de conseguir superá-las e por fim busco todos os motivos e mais algum
que me deem a desculpa de voltar de novo ao Caminho e tentar mais uma vez
encontrar o motivo exato que me tem levado fazê-lo!
Texto:
António Pimpão
Imagem:
Arco de Capera: (Cáparra, Oliva de Plasencia, Cáceres)
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